Ele disse que foi espontâneo.
Ela disse que estava
reparando na pinta que ele tem pouco abaixo do lábio inferior e acabou se
esquecendo de puxar assunto.
Ele disse que a
conversa estava ótima, mas que não via mal em tirar uns momentos para contemplação.
Tinha muito a contemplar, ele disse.
Ela disse que deixou a
pinta de lado quando reparou melhor naquele sorriso tímido, na boca que ainda
estava vacilante sobre falar algo ou deixar que sobreviesse o silêncio; ela
também estava, mas não quis dizer nada.
Ele disse que chegou à
conclusão, naquele momento, de que ela era a moça mais bonita com quem já havia
saído.
Ela disse que não era
incomum conhecer rapazes mais charmosos que ele, mas ele era, sem dúvidas, um
dos mais carismáticos.
Ele disse que perdeu a
noção do tempo naquele lugar em que tudo o que existia eram seus olhos e olhos
dela, ambos os pares se atraindo e tragando-os para si.
Ela disse que não sabe
qual música estava tocando de fundo.
Ele disse que também
não faz a menor ideia.
Ela disse que não sabe
se foi antes ou depois de pedirem as bebidas.
Ele disse que ela foi
a primeira pessoa que pareceu notar a pequena cicatriz abaixo do seu olho
direito.
Ela disse que ficou
curiosa quanto àquela minúscula cicatriz, mas não quis quebrar o silêncio para
perguntar.
Ele disse que o
silêncio acalmou seu coração, antes disparado, tranquilizando-o por inteiro.
Ela disse que o
silêncio a embalou e a colocou numa posição de conforto como nunca tinha
sentido em um primeiro encontro.
Ele disse que não
havia como se cansar de admirar cada detalhe do rosto dela; particularmente, quando
os olhos deixavam, ele sempre voltava para as bochechas e para a ponta do nariz.
Ela disse que o rosto
dele ia se tornando mais lindo a cada segundo.
Ele disse que tinha centenas
de assuntos que queria conversar com ela – já até havia imaginado alguns
diálogos na sua cabeça –, porém, a seu ver, isso podia esperar.
Ela disse que não
planejou pegar na mão dele, simplesmente aconteceu.
Ele disse que não
planejou pegar na mão dela, simplesmente aconteceu. E quando os dois viram,
estavam com os dedos entrelaçados.
Ela disse que a cor
dos olhos dele era verdadeiramente única.
Ele disse que nunca
gostara dos seus olhos, de um castanho tão comum; mas em nenhum momento sentiu
vergonha.
Ela disse que também
não sentiu vergonha, ao contrário, queria que ele visse o que havia além daquilo
que sempre admiravam ou rechaçavam.
Ele disse que às vezes
percebia pessoas ao redor observando curiosas, mas as ignorava completamente.
Ela disse que não foi
difícil esquecer que estavam em um restaurante.
Ele disse que esperava
que um incêndio não começasse perto deles, pois eles demorariam bastante para
notar.
Ela disse que a mão
dele era cálida e um pouco áspera.
Ele disse que de vez em
quando o sorriso dela se alargava com leveza, e nesses momentos ele se
arrependia de não ter consigo uma aliança.
Ela disse que tudo
aquilo era uma loucura, no entanto era uma loucura que estava adorando.
Ele disse que sua
impressão era que naquele tempo a pôde conhecer melhor do que se tivessem
passado horas jogando conversa fora.
Ela disse que entendeu
muito dele enquanto seus olhos não podiam – e não queriam – fugir dos dela.
Ele disse que sempre
gostou de observar a natureza desabrochar; e ali à sua frente estava a
obra-prima entre todas as coisas mais belas do mundo, desabrochando sob seu
olhar atento.
Ela disse que gostava de
ir em museus e contemplar graciosas estátuas em seus mínimos detalhes.
Ele disse que a pupila
esquerda dela era um pouco maior.
Ela disse que era
verdade.
Ele disse que foi como
um beijo, mas de olhos bem abertos.
Ela disse que foi bem
melhor que muitos beijos.
Ele disse que ali teve
o impulso de pedi-la em namoro, porém achou cedo demais.
Ela disse que teria
aceitado.
Ele disse que tinha
esperanças de que o restaurante fechasse e simplesmente os esquecem lá, para que
eles pudessem continuar se encarando noite afora.
Ela disse que naturalmente
apoiou o rosto em sua mão, como quem se prepara para ficar na mesma posição por
horas a fio.
Ele disse que havia
uma beleza no fundo dos olhos dela que, por fim, o deixou sem reação.
Ela disse que a graça
daquele instante era que nenhuma ação ou reação eram necessárias.
Ele disse que não
sabia as regras.
Ela disse que não
havia regras.
Ele disse que começou
a ficar receoso sobre a hora em que aquela conexão iria se romper e a magia talvez
se esvanecesse.
Ela disse a ele que
não se preocupasse com isso agora – e o fez ainda em silêncio, apenas com o
olhar.
Ele disse que se
acalmou.
Ela disse que sorriu.
Ele disse que aquele
sorriso o iluminou por dentro.
Ela disse que sabia
que ele sentia o mesmo.
Então ele disse...
Então ela disse...
Até que eles perceberam que não precisavam dizer mais nada.