domingo, 5 de outubro de 2014

Resiliência

Ainda posso sentir quando o vento entra pelas frestas e desvia de onde você deveria estar.
Chega em mim com todo esse atrevimento e eu lhe explico que há tanto tempo que nem me lembro mais - o que minhas contagens mentais diárias desmentem - você já não se faz presente aqui.
Inconformada, como um dia estive eu, a brisa também me abandona, e eu entendo que junto com você se foi todo o sentido que fazia de mim uma boa companhia.
Caiu a noite no pequeno espaço em que me guardo todos os dias. Tenho medo é que nem o brilho do sol, que incomoda meu sono perene e me dá o estímulo para abrir os olhos, atreva-se a invadir um antro vazio.
Quando você soltou a mão das minhas para colocá-la na maçaneta e enfim partir, eu me lembro como se fosse ontem (e quando foi?) de haver-lhe dito fique, eu te farei bem. Você respondeu não, eu mesma me farei esse bem.
Achei ter visto lágrimas aquarelarem seu rosto nu, mas era minha própria visão que se turvara da tristeza que molhava minha face.
E na melancolia que se percebe em cada fio das teias que crescem nos vértices de cada cômodo sem que eu me importe, meu coração submergiu e, nas penúrias de minha própria comiseração, eu me fiz só - e me afoguei.