segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Do Brincar de Deus

É bastante comum essa expressão. "Brincar de Deus". Geralmente é usada para acusar os cientistas de transpor as barreiras da ética humana. Acredito que eu mesmo já tenha utilizado-a em algum discurso contra os absurdos dos experimentos mais ousados, como a clonagem e os transgênicos.
Entretanto, se você parar pra pensar bem, não faz sentido esse termo. Porque, não, os cientistas não brincam "de Deus". Ainda que um homem queira tal coisa, ele é limitado. Por mais que queiramos reinar sobre tudo e sobre todos, vem a Natureza e, sem dificuldade alguma, nos impõe fronteiras que não podemos ultrapassar. Vejam, somos capazes de prever terremotos, mas isso não impede que eles destruam cidades inteiras e façam vítimas; podemos voar ao espaço, mas a distância que podemos percorrer é bem limitada; podemos criar remédios e vacinas, mas inevitavelmente ainda morrem milhões por dia de enfermidades; não importa o que fabriquemos, sempre nos será essencial a água e a comida, que apenas a natureza é capaz prover; e tudo isso sem dizer na inevitabilidade da morte. Aliás, um parêntese: a questão do meio ambiente, na verdade é um pouco diferente do que alguns imaginam: o perigo não é destruirmos a natureza; o mundo sofre calamidades desde que foi criado e sempre sobreviveu, sempre foi capaz de se renovar. O problema é que nós, os soberanos do mundo, dependemos dela. É por isso que temos que preservá-la.
Mas, bem, o ponto é que não é difícil provar que nós estamos completamente à mercê das leis da natureza. Cristãos, budistas, agnósticos e ateus - todos hão de concordar com isso. À essas leis, podemos chamar de Deus. Não só às leis, obviamente, mas à toda a natureza e a tudo que existe. Os maçons têm um nome bastante interessante para Ele: "Grande Arquiteto do Universo". Não só arquiteto, eu diria, mas o próprio universo. Aí, então, acusam os cientistas de brincar de Deus. Oh, não, isso não é verdade! Deus criou todo o universo a partir do nada, criou a ordem, criou os seres vivos e os interligou de uma maneira terrivelmente extraordinária (aguardem um post apenas sobre isso). Criou cada pequeno ser, desde esponjas do mar até o mais complexo sistema biológico, como o nosso. Criou o sopro da vida, criou fenômenos até hoje incompreensíveis. Criou o tempo e criou o infinito. Cuidadosamente esculpiu as conchas e teve o cuidado de desenhar nelas uma espiral matematicamente perfeita. Criou as cores, uma a uma, tom a tom. E beneficiou nós, tolos mortais, com essa incrível capacidade de raciocinar e, inclusive, de questioná-Lo.
Aí, então, novamente acusam os cientistas de brincar de Deus. Brincar de Deus? Pobres cientistas, nunca chegarão à altura da força criadora do Universo, nem de brincadeira. Nós podemos pegar óvulos, fecundá-los e fazer eles se desenvolverem em uma incubadora. Ok. Mas antes, Deus concebeu meticulosamente todo o processo da reprodução, inventou os óvulos, criou um esquema tal que uma célula em nove meses se torna um bebê de 3kg e, com alguns anos, se torna um adulto de um metro e oitenta. A partir de uma célula menor que este ponto final.
Daí os seres humanos se acham os tais por conseguirem compreender (parcialmente) o processo e conseguirem clonar animais e interferir em genes. Contudo, o que é isso frente a inventar todo o deslumbrante código genético e formar bilhões de animais distintos? É como pegar peças de Lego e empilhá-las ou formar casinhas. Tem seus méritos, mas convenhamos que as pecinhas já estavam lá, prontas, pensadas e fabricadas.
Assim, tenhamos um pouco de humildade. O dia em que criarmos algum quebra-cabeça ao invés de apenas montarmos os já existentes, aí sim poderemos ter uma discussão séria.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Dos Sinais

Esse vídeo não tem falas, nem diálogos - ao menos não no sentido convencional - e, acredite, eles não fazem falta alguma. Da mesma forma, acho desnecessário ficar tecendo comentários sobre o curta "Signs" (Sinais) - (aparentemente) vencedor do Festival de Publicidade de Cannes em 2009.
Só uma recomendação: assistam. Até o fim (se bem que, depois dos primeiros 2 minutos, duvido alguém não continuar até o final). Não sei se vão gostar tanto quanto eu, mas, para mim, é um dos melhores vídeos dos YouTube.



"Signs", 12 min., dirigido por Patrick Hughes, ★★★★★




"Thought you'd never ask..."

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Versus: "You D/Won't See Me"

A proposta da categoria Versus é bem simples: duas músicas de mesmo nome e de duas bandas diferentes serão postas na balança. O objetivo nem é dizer qual é a melhor, até porque isso, na maioria das vezes, nem é possível. O que se pretende aqui é... ah, apenas compartilhar (boas) músicas, eu acho e ter um parâmetro pra não postar músicas aleatoriamente.
Como o título do post denuncia, já da primeira vez o nome das músicas não é exatamente o mesmo - se diferenciam por uma letra. Ainda assim, são duas canções que valem muito a pena ser ouvidas; uma é marcada pela euforia brincante dos Beatles e a outra pelo sentimentalismo tocante do Keane.
Espero que gostem.


"You Won't See Me" - The Beatles
Composição: Lennon/McCartney

"Though the days are few they're filled with tears. And since I lost you, it feels like years. Yes, it seems so long, girl, since you've been gone and I just can't go on if you won't see me. You won't see me. Time after time you refuse to even listen, I wouldn't mind if I knew what I was missing."


"You Don't See Me" - Keane
Composição: Chaplin, Hughes, Rice-Oxley

"Like beautiful dolls, all made up and bright, radiant people in splintering light. All moving at the speed of life, reflecting in each others' eyes. But you're moving so fast through this beautiful scene, you don't see me."


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Citação I


Uma das coisas que Ford Perfect jamais conseguiu entender em relação aos seres humanos era seu hábito de afirmar e repetir continuamente o óbvio mais óbvio, coisas do tipo ‘Está um belo dia’, ou ‘Como você é alto’, ou ‘Ah, meu Deus, você caiu num poço de dez metros de profundidade, você está bem?’. De início, Ford elaborou uma teoria para explicar esse estranho comportamento. Se os seres humanos não ficarem constantemente utilizando seus lábios - pensou ele -, eles grudam e não abrem mais. Após pensar e observar por alguns meses, abandonou essa teoria em favor de outra: se eles não ficarem constantemente exercitando seus lábios - pensou ele -, seus cérebros começam a funcionar. Depois de algum tempo, abandonou também esta teoria, por achá-la demasiada cínica, e concluiu que, na verdade, gostava muito dos seres humanos. Contudo, sempre ficava muitíssimo preocupado ao constatar como era imenso o número de coisas que eles desconheciam.”

(“O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Do Eu


«Triplo Autorretrato» (1960), por Norman Rockwell


x x x

«Prefere não andar.
Não gosta de vizinhos.
Detesta rádio, telefone e campainhas.
Tem horror às pessoas que falam alto.
Usa óculos. Meio calvo.
Não tem preferência por nenhuma comida.
Não gosta de frutas nem de doces.
Indiferente à música. [...]
Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.
Só tem cinco ternos de roupa, estragados.
Refaz seus romances várias vezes.
Esteve preso duas vezes.
É-Ihe indiferente estar preso ou solto.
Escreve à mão.
Espera morrer com 57 anos.»


Autorretrato por Graciliano Ramos, morto aos 60 anos.

sábado, 30 de julho de 2011

Da Academia

Leonardo, Michelângelo, Donatello e Rafael. Além do nome das Tartarugas Ninjas, também são quatro dos principais pintores do período renascentista (aproximadamente entre 1400 e 1600). Não é preciso dizer que Leonardo [da Vinci] e Michelângelo [Buonarroti] são os mais conhecidos; isso, contudo, não deve tirar o mérito de Donatello ["Donato di Niccolò"] ou de Rafael [Sanzio].



"Davi", por Donatello


Eu, particularmente, sou fascinado pelo Renascimento: de todas as escolas artísticas é (acho) a minha favorita. Talvez pela mescla perfeita entre a antiguidade e a modernidade. Talvez pela minha admiração profunda pelo grande cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico Leonardo di ser Piero da Vinci. Entretanto, também existe uma obra em particular de Rafael que me impressiona bastante. "A Escola de Atenas" é como a chamam.

"A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio
(clique para ampliar)

"A Escola de Atenas" não é uma tela, é um afresco de 5,5m por 7m, pintado entre 1509/1510 no Palácio Apostólico, no Vaticano. O nome "renascimento" é uma referência à retomada da antiguidade clássica grega e romana; logo, nada mais adequado que retratar os mais influentes gregos do período antigo [apesar de nem todos serem gregos de fato]. E essa pintura é exatamente isso: representa uma reunião entre os pensadores mais importantes da região que hoje é a Grécia (e regiões vizinhas) - pensadores não necessariamente contemporâneos, que fique claro! - e que foram fundamentais para o desenvolvimento da filosofia e também da ciência. Nem sempre há concordância em relação à identidade das figuras retratadas, mas vou apresentar alguns baseado na interpretação mais recorrente e provável.
Ao centro, e não há dúvidas quanto a isso, dois "gigantes" filósofos: Platão [de Atenas] e Aristóteles [de Estagira]. Platão aponta, não por acaso, para cima, representando sua linha de pensamento com um foco no metafísico, no inatingível, no mundo das ideias, bem representado pela expressão "amor platônico", ou seja, um amor idealizado. Dizem que o modelo para o rosto de Platão foi Leonardo da Vinci... Aristóteles, ao contrário, tinha um raciocínio mais voltado para o terreno, o sensível (que pode ser sentido), por isso a mão com a palma voltada para baixo. Que outra obra te dá uma verdadeira aula de filosofia?
Então, como se pode apreender da própria pintura, Platão e Aristóteles divergiam em alguns aspectos. Eu, ainda que ainda conheça superficialmente ambos, posso dizer que concordo em parte com um e em parte com outro. Mas minha "veneração" maior é por Sócrates [de Atenas], mestre de Platão (que, por sua vez, foi mestre de Aristóteles, que, por sua vez, foi tutor de Alexandre o Grande). Para Nietzsche, aparententemente, com Sócrates a verdadeira filosofia "se desviou para o caminho errado"; para mim, Sócrates é o único pai da real filosofia. Como se vê, ele foi retratado por Rafael no meio de uma conversa, já que uma atividade que ele praticava bastante era a retórica, ou seja, ele conversava com as pessoas e tentava apreender algo dos diálogos.
No lado esquerdo, está Pitágoras [de Samos], bastante famoso na matemática (hipotenusaaoquadradoigualacatetoaoquadratomaisoutrocatetoaoquadrado, lembram-se?), um homem realmente fenomenal, importante também para música, por exemplo.

"A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus."
(Pitágoras)

A Escola pitagórica se destacava pelo seu misticismo e pelo destaque que davam aos números. Falando nisso, vemos também Euclides com um compasso: isso porque ele é considerado o "pai da geometria", além de ter sido importante também para o estudo da óptica, por exemplo.
Na escada, temos Diógenes.


"Conta-se que morava num tonel e que só possuía um manto, um bastão e um saco para o pão. (Não era fácil roubar-lhe a sua felicidade!). Certo dia, estava a tomar um banho de sol à frente do seu tonel quando Alexandre Magno o visitou. Alexandre apresentou-se ao sábio e disse-lhe que lhe daria o que ele desejasse. Diógenes pediu a Alexandre que não lhe tapasse o sol. Foi assim que Diógenes demonstrou que era mais rico e mais feliz do que o grande homem. Tinha tudo o que desejava."
- "O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder


No canto, está Zenão [de Cítio], fundador do Estoicismo, uma corrente interessante, que pregava uma vida de acordo com a natureza e não com os prazeres e as coisas externas a nós. Próximo a ele, vê-se Epicuro, fundador do Epicurismo, uma filosofia que pregava basicamente o seguinte: deveria-se procurar prazeres moderadamente; não se devia temer a morte; e, para alcançar a felicidade, era necessário liberdade, amizade e tempo para filosofar.
A única mulher na obra é a bela Hipátia - porque, de fato, às mulheres não eram dadas muitas oportunidades de filosofar. Ela foi morta por cristãos e arrastada pela cidade.

"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Téon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época."
(Sócrates, o escolástico)

Heráclito e Parmênides, próximos um do outro, tinham divergências filosóficas. Heráclito (inspirado no rosto de Michelângelo?) acreditava que tudo fluía, tudo estava em movimento constante; faz bastante sentido, então, ele declarar o fogo como matéria primordial de tudo o que exite. Ele é bastante conhecido também por sua teoria dos opostos, ou seja, nada existiria se não houvesse sem oposto: não há bondade se não houver maldade etc. Parmênides pregava uma realidade imutável e a existência de um Ser supremo, que simplesmente é. Já vemos aí o surgimento de uma noção de Deus monoteísta... Aliás, só pra registrar, eu não acho a filosofia dos dois tão divergente assim.
À direita, temos Ptolomeu, matemático, astrólogo E astrônomo, que acreditava na Terra como centro do Universo. E, por fim, vemos o persa Zaratrusta (famoso pelo livro de Nietzsche), fundador do Zoroastrismo. Reza a Wikipédia lenda que, quando ele nasceu, nascendo rindo; e, quando posto no meio do fogo, não se queimou. Além disso, realizou milagres e viveu por sete anos isolado em uma montanha, sem comer nenhum animal. Ele já proclamava a abominação dos pecados e a ideia de falar sempre a verdade e cumprir com a palavra. Também não admitia também infligir dor ao seu próprio corpo. Morreu com 77 anos. [falarei mais sobre ele em outro post, aguardem]

"Aquele que diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus." (Zaratrusta)

Apenas mais uma observação: na parte de cima há duas figuras mitológicas: Apolo - deus do Sol, da música etc. - e [Palas] Atena - deusa da sabedoria, da arte, da justiça etc. Curiosamente, as personalidades à direita, abaixo de Atena, são ligados mais à geometria e astronomia. Os que estão à esquerda, tem uma maior relação com a música e com a matemática. Interessante, não?

terça-feira, 19 de julho de 2011

Do porquê Joanne é bilionária

ou "O primeiro e, provavelmente, último post sobre o menino que sobreviveu" (SEM SPOILERS)

Trilha sonora para acompanhar a leitura do post:




Na verdade, eu não pretendia escrever um post sobre o assunto. Eu deixaria passar em branco, sem mencionar nada a respeito, como se não fosse importante. Mas é. E muito.

 "O Sr. e a Sra. Dusley, da rua dos Alfeneiros, nº 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem." (Primeiro parágrafo de "Harry Potter e a Pedra Filosofal")

A imagem dispensa descrições, certo? Para os menos familiarizados, esse é o primeiro livro da série. Em um dia qualquer de um ano que - infelizmente - não me lembro (2000, acho), essa capa começou a se infiltrar nas (poucas) livrarias da minha cidade e vários exemplares eram exibidos na vitrine. Até aí, não havia me atraído muito. Mesmo porque, vamos combinar, essa capa é muito mais sugestiva e instigante depois que você lê o livro (em especial o detalhe do Fofo ao fundo). Então, por mim, mesmo já gostando muito de ler na época (então, não, eu não aprendi a gostar de ler com Harry Potter), não faria tanta questão de tê-lo... até que eu o ganhei: era exatamente igual esse da imagem, o título ainda sem a estilização dos exemplares pós-adaptação-para-o-cinema. O curioso é que os primeiros capítulos do livro são longos e com referências que você só vai entender muitas páginas (ou livros!) pra frente! Muita gente deve ter desistido logo no começo, mas tanta gente persistiu - graças à habilidade de escrita da autora - que Harry Potter se tornou um marco literário. Não é a toa que, ao fim do primeiro livro, fiquei ansiosíssimo pelo segundo, e qual não foi a minha supresa ao ver, algum tempo depois, que ele seria adaptado para o cinema! Vejam, o primeiro livro custou uns R$20, mas os outros, como o 5º e o 7º, custaram, cada um, em torno de R$65 (mais os três livros extras); isso sem contar os ingressos para os filmes. Contudo, mesmo isso posto, afirmo com segurança: valeu cada centavo.

Por quê? Bom, um dia eu li que a razão de tamanho sucesso era pela história abordar vários temas comuns, como conflitos familiares, sexo, drogas, romance, vida escolar, esportes, lutas etc etc. Acho que eu concordo em parte, porém não pode ser apenas esse o motivo. Acho que a magnificência da saga está menos em tratar de temas recorrentes e mais na fantasia, no fantástico: ou, o que é mais provável, na junção dos dois aspectos. Decerto fazem séculos que livros sobre magia e bruxaria são escritos, mas acabou que Harry Potter vingou como nenhum outro. Arrisco supor que se fosse apenas um livro, não faria tanto rebuliço; contudo, a série dos sete foi marcada por uma genial gradação do tom adulto da obra, incluindo a linguagem, acompanhando também o crescimento dos leitores. Confesso que eu reclamei bastante sobre o hiato entre um livro e outro (como o 5º, que levou anos para ser publicado), mas, agora, olhando pra trás, acho que eles todos saíram no tempo certo... ao menos para os que conviveram com Hogwarts durante a adolescência.

Eis que dia 21/07/2007, a história chegou, em definitivo, ao fim. Os que tinham condições, adquiriram sua versão em inglês mesmo; os mais saudosistas, aguardaram até novembro pela versão oficial em português; e eu... bem, eu li, poucos dias depois do lançamento em inglês, uma versão traduzida às pressas por fãs (tradução muito bem feita, diga-se de passagem) e disponibilizada na internet (para quem não se lembra, na época, houve uma verdadeira agitação, pois alguém pegou o livro de uma livraria e o scanneou antes do dia 21). Ali se encerrou toda a trama, com todos os maiores mistérios suficientemente bem esclarecidos (ao contrário, digamos, de Lost hehe); aqui cabe um adendo curioso: ainda que a história se passe em um mundo mágico, onde tudo é possível de acontecer, J. K. Rowling não se utiliza disso para justificar tudo com "magia" - não, ela cria um mundo bastante verossímil, em que também há limites (não se pode, por exemplo, consertar varinhas quebradas, ressucitar os mortos ou se tornar imortal facilmente). O que me impressionou muito também são os pequenos detalhes que foram criados em vários livros anteriores e serviram para desvendar mistérios no último. Essa é uma dificuldade comum em coletâneas que vão sendo escritas uma a uma e vão sendo publicadas: se, no terceiro livro, você percebe que deveria ter deixado uma pista no primeiro, não há mais volta. E, olha, sinceramente, se faltou algo para a autora acrescentar em algum dos livros necessário para o desfecho final, ela não deixou transparecer em nenhum momento. O sentimento é que toda a história já estava estruturada na cabeça dela, nos mínimos detalhes (quando, ao que tudo indica, apenas o epílogo já estava escrito desde o começo), porque, no fim, tudo se encaixou.

Agora, 4 anos depois do lançamento do último livro, o último filme é exibido para o mundo. Muitos não entendem a declaração de que "agora sim, acabou", mas, de fato, agora sim, não há mais continuação (sim, eu estou ignorando o PotterMore). É verdade, todos os fãs já sabiam o final do filme (bem como praticamente todo o roteiro), porém, entendam, é diferente quando você vê a cena perante seus olhos e não apenas na imaginação; ou não é diferente ler o romance do Mario Puzo e assistir o filme do Francis Ford Coppola? Pela última vez, tivemos a chance de vislumbrar aquele castelo quase irreal e um espetáculo de feitiços e magias que a maioria de nós não tem a esperança de ver fora da tela. Ainda mais com efeitos especiais quase impecáveis!

Enfim, só nos resta mesmo agradecer à Joanne, pois, afinal, nós lhe demos fortuna, mas o que ela nos deu foi todo um mundo extaordinário; um mundo sem restrição de idade e que estará lá para quando quisermos revisitá-lo.


"A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão - as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas. Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: 'Brasil, aqui vou eu... Obrigada, amigo.'"
- trecho de "Harry Potter e a Pedra Filosofal"


"Words are, in my not so humble opinion, our most inexhaustible source of magic, capable of both inflicting injury and remedying it"
- Alvo Dumbledore (filme "Harry Potter e as Relíquias da Morte")




Créditos da imagem: Google Images.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

De quando um átomo do tamanho da ponta de uma agulha se expandiu

O primeiro post é geralmente complicado de ser escrito. É uma tentativa de apresentar algo ainda sem forma, que nem o próprio autor sabe o que vai ser direito. Cá está o bloco de mármore, ele pode ainda não ter sua beleza, mas um dia talvez será uma bela estátua, quase com vida própria. E, assim, a sorte está lançada!

Minha maior relutância para criar um novo blog se devia a minha incerteza se alguém estaria disposto a ler textos tão rebuscados e, às vezes, longos demais para uma geração de textos-telegramas. Cheguei, afinal, à conclusão de que não perco nada por tentar. Foram meses seguidos anotando insights e ideias para posts, mas o fato de eu as ter anotado não quer dizer que elas valham a pena. :)

Por vezes, haverá algum texto filosófico ou reflexivo, mas, de vez em quando, o objetivo do post vai ser apenas descontrair. Às vezes, contos, às vezes, desabafos, às vezes, uma imagem que conta sozinha uma história, e, às vezes, simplesmente um comentário que não pôde ser reduzido a 140 caracteres. A verdade é que é realmente inútil tentar antecipar o que está por vir, tentar descrever essa miscelânea que está na minha cabeça e que eu me esforçarei para traduzir em letras e pontos e vírgulas. Acho (espero!) que vocês entenderão melhor com o tempo.

Em tempo: coincidentemente, ou não, hoje é um dia historicamente significativo. E isso, acreditem, diz muito sobre mim e sobre o blog.

Sobre o título do blog? Ah, acho que ele próprio se explica.

Aproveitem a estadia!

---

Imagem no topo: "O Nascimento de Vênus" (~1480), por Sandro Botticelli
Título provável do próximo post: Da Academia