terça-feira, 16 de outubro de 2012

Contos de William, o Bardo

          Se tem uma característica de Guimarães Rosa que precisa constar em qualquer análise literária de suas obras é seu exacerbado uso de neologismos. “Taurophtongo” (= mugido, dos gregos ‘táuros’ (touro) + ‘phtoggos’ (som da fala)), “ensimesmudo” (= sujeito fechado, de ‘ensimesmado’ + ‘mudo’), “embriagatinhar” (= alguém que engatinha de tão bêbado), “coraçãomente” (= cordialmente) e “nonada” (= coisa sem importância) são todas palavras criadas pelo autor mineiro.
          Mas se, por um lado, ninguém utiliza vocábulos tão peculiares no dia-a-dia, todos os falantes de língua inglesa fazem uso dos neologismos elaborados por um autor inglês, conhecido como O Bardo. Sim, o Bardo de Stratford-upon-Avon (o quão awesome é o nome dessa cidade?): William Shakespeare. O exemplo mais conhecido é a palavra “assassination”. Exatamente: o termo repetido diariamente em quase todos os noticiários do mundo foi uma invenção do pai de Romeu e Julieta. Quer outro exemplo? Há uma montidão [monte + imensidão... gostaram?] deles: champion [campeão], torture [tortura], compromise [acordo; ceder], monumental e até os triviais lonely [solitário] e bedroom (como eles nomeavam o quarto antes eu não faço ideia...).
          Eu sei que parece estranho pensar que palavras tão comuns e tão recorrentes tanto no vocabulário deles quanto no nosso (depois de terem passado por um “aportuguesamento”, claro) só passaram a existir apenas por volta de 1.600. Todavia, se nós pensarmos bem, toda palavra surge de algum lugar, então não faz sentido algum imaginar que de um dia pro outro todos os verbetes estavam prontos para serem usados. E justamente porque cada pequena palavra tem sua própria história é que o estudo da linguagem é tão deslumbrantemente (neologismo?) fascinante para mim.
          Para quem ficou curioso, segue uma lista de outros frutos da genialidade de Shakespeare que, bem ou mal, tornaram-se bastante populares:

- Accuse (acusar)
- Addiction (vício, dependência)
- Advertising (publicidade, propaganda)
- Amazement (espanto, assombro, adimração)
- Bet (apostar; aposta)
- Birthplace (local de nascimento)
- Blanket (cobertor)
- Blushing (corar, ruborizar; tímido)
- Circumstantial (circunstancial)
- Cold-blooded (sangue-frio)
- Countless (incontável)
- Dawn (amanhecer)
- Discontent (discontente)
- Epileptic (epilético)
- Elbow (cotovelo)
- Excitement (exitação)
- Eyeball (globo ocular)
- Gossip (fofoca)
- Green-eyed (olhos verdes)
- Hint (dica, conselho; pista)
- Impartial (imparcial)
- Invunerable (invunerável)
- Majestic (majestoso)
- Mimic (imitar)
- Negotiate (negociar)
- Obscene (obsceno)
- Pedant (pedante; meticuloso; pontual)
- Premeditated (premeditado)
- Secure (seguro, protegido; assegurar)
- Submerge (submergir)
- Worthless (sem valor, inútil)

(No total, o poeta inglês inventou cerca de 1.700 vocábulos que se popularizaram, transformando substantivos em verbos, verbos em adjetivos, juntando palavras em uma única, adicionando prefixos/sufixos etc.)


A lista acima, bem como a última informação entre parênteses, foram retiradas de: http://shakespeare-online.com/biography/wordsinvented.html
Já os exemplos de neologismos rosianos pertencem a: http://veja.abril.com.br/060601/p_162.html

3 comentários:

  1. Do Guimarães Rosa, eu até tinha conhecimento, apesar de ainda torcer um pouco o nariz pra ler suas obras, pelo simples motivo que não entendo. hahaha Admito mesmo. Não sabia que os neologismos de Shakespeare tinham se popularizado desse tanto.

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  2. Gente, não dá pra ler essa lista e não tentar imaginar o que as pessoas diziam antes desses neologismos! São palavras tão populares e tão presentes que parece que sempre existiram!

    Será que ainda vamos incorporar os neologismos do Guimarães Rosa ao nosso vocabulário?

    Até mais! :D

    Gabriela.

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  3. Pois é, Adônis, eu vi a data e tals. Mas resolvi ler o texto mesmo assim. Gostei muito e pensei em responder o comentário. Volta! haha

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