sábado, 30 de julho de 2011

Da Academia

Leonardo, Michelângelo, Donatello e Rafael. Além do nome das Tartarugas Ninjas, também são quatro dos principais pintores do período renascentista (aproximadamente entre 1400 e 1600). Não é preciso dizer que Leonardo [da Vinci] e Michelângelo [Buonarroti] são os mais conhecidos; isso, contudo, não deve tirar o mérito de Donatello ["Donato di Niccolò"] ou de Rafael [Sanzio].



"Davi", por Donatello


Eu, particularmente, sou fascinado pelo Renascimento: de todas as escolas artísticas é (acho) a minha favorita. Talvez pela mescla perfeita entre a antiguidade e a modernidade. Talvez pela minha admiração profunda pelo grande cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico Leonardo di ser Piero da Vinci. Entretanto, também existe uma obra em particular de Rafael que me impressiona bastante. "A Escola de Atenas" é como a chamam.

"A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio
(clique para ampliar)

"A Escola de Atenas" não é uma tela, é um afresco de 5,5m por 7m, pintado entre 1509/1510 no Palácio Apostólico, no Vaticano. O nome "renascimento" é uma referência à retomada da antiguidade clássica grega e romana; logo, nada mais adequado que retratar os mais influentes gregos do período antigo [apesar de nem todos serem gregos de fato]. E essa pintura é exatamente isso: representa uma reunião entre os pensadores mais importantes da região que hoje é a Grécia (e regiões vizinhas) - pensadores não necessariamente contemporâneos, que fique claro! - e que foram fundamentais para o desenvolvimento da filosofia e também da ciência. Nem sempre há concordância em relação à identidade das figuras retratadas, mas vou apresentar alguns baseado na interpretação mais recorrente e provável.
Ao centro, e não há dúvidas quanto a isso, dois "gigantes" filósofos: Platão [de Atenas] e Aristóteles [de Estagira]. Platão aponta, não por acaso, para cima, representando sua linha de pensamento com um foco no metafísico, no inatingível, no mundo das ideias, bem representado pela expressão "amor platônico", ou seja, um amor idealizado. Dizem que o modelo para o rosto de Platão foi Leonardo da Vinci... Aristóteles, ao contrário, tinha um raciocínio mais voltado para o terreno, o sensível (que pode ser sentido), por isso a mão com a palma voltada para baixo. Que outra obra te dá uma verdadeira aula de filosofia?
Então, como se pode apreender da própria pintura, Platão e Aristóteles divergiam em alguns aspectos. Eu, ainda que ainda conheça superficialmente ambos, posso dizer que concordo em parte com um e em parte com outro. Mas minha "veneração" maior é por Sócrates [de Atenas], mestre de Platão (que, por sua vez, foi mestre de Aristóteles, que, por sua vez, foi tutor de Alexandre o Grande). Para Nietzsche, aparententemente, com Sócrates a verdadeira filosofia "se desviou para o caminho errado"; para mim, Sócrates é o único pai da real filosofia. Como se vê, ele foi retratado por Rafael no meio de uma conversa, já que uma atividade que ele praticava bastante era a retórica, ou seja, ele conversava com as pessoas e tentava apreender algo dos diálogos.
No lado esquerdo, está Pitágoras [de Samos], bastante famoso na matemática (hipotenusaaoquadradoigualacatetoaoquadratomaisoutrocatetoaoquadrado, lembram-se?), um homem realmente fenomenal, importante também para música, por exemplo.

"A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus."
(Pitágoras)

A Escola pitagórica se destacava pelo seu misticismo e pelo destaque que davam aos números. Falando nisso, vemos também Euclides com um compasso: isso porque ele é considerado o "pai da geometria", além de ter sido importante também para o estudo da óptica, por exemplo.
Na escada, temos Diógenes.


"Conta-se que morava num tonel e que só possuía um manto, um bastão e um saco para o pão. (Não era fácil roubar-lhe a sua felicidade!). Certo dia, estava a tomar um banho de sol à frente do seu tonel quando Alexandre Magno o visitou. Alexandre apresentou-se ao sábio e disse-lhe que lhe daria o que ele desejasse. Diógenes pediu a Alexandre que não lhe tapasse o sol. Foi assim que Diógenes demonstrou que era mais rico e mais feliz do que o grande homem. Tinha tudo o que desejava."
- "O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder


No canto, está Zenão [de Cítio], fundador do Estoicismo, uma corrente interessante, que pregava uma vida de acordo com a natureza e não com os prazeres e as coisas externas a nós. Próximo a ele, vê-se Epicuro, fundador do Epicurismo, uma filosofia que pregava basicamente o seguinte: deveria-se procurar prazeres moderadamente; não se devia temer a morte; e, para alcançar a felicidade, era necessário liberdade, amizade e tempo para filosofar.
A única mulher na obra é a bela Hipátia - porque, de fato, às mulheres não eram dadas muitas oportunidades de filosofar. Ela foi morta por cristãos e arrastada pela cidade.

"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Téon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época."
(Sócrates, o escolástico)

Heráclito e Parmênides, próximos um do outro, tinham divergências filosóficas. Heráclito (inspirado no rosto de Michelângelo?) acreditava que tudo fluía, tudo estava em movimento constante; faz bastante sentido, então, ele declarar o fogo como matéria primordial de tudo o que exite. Ele é bastante conhecido também por sua teoria dos opostos, ou seja, nada existiria se não houvesse sem oposto: não há bondade se não houver maldade etc. Parmênides pregava uma realidade imutável e a existência de um Ser supremo, que simplesmente é. Já vemos aí o surgimento de uma noção de Deus monoteísta... Aliás, só pra registrar, eu não acho a filosofia dos dois tão divergente assim.
À direita, temos Ptolomeu, matemático, astrólogo E astrônomo, que acreditava na Terra como centro do Universo. E, por fim, vemos o persa Zaratrusta (famoso pelo livro de Nietzsche), fundador do Zoroastrismo. Reza a Wikipédia lenda que, quando ele nasceu, nascendo rindo; e, quando posto no meio do fogo, não se queimou. Além disso, realizou milagres e viveu por sete anos isolado em uma montanha, sem comer nenhum animal. Ele já proclamava a abominação dos pecados e a ideia de falar sempre a verdade e cumprir com a palavra. Também não admitia também infligir dor ao seu próprio corpo. Morreu com 77 anos. [falarei mais sobre ele em outro post, aguardem]

"Aquele que diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus." (Zaratrusta)

Apenas mais uma observação: na parte de cima há duas figuras mitológicas: Apolo - deus do Sol, da música etc. - e [Palas] Atena - deusa da sabedoria, da arte, da justiça etc. Curiosamente, as personalidades à direita, abaixo de Atena, são ligados mais à geometria e astronomia. Os que estão à esquerda, tem uma maior relação com a música e com a matemática. Interessante, não?

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