Ao 1 ano, eu não tinha certeza de nada.
Aos 3 anos, eu tinha certeza de que gostava dos meus pais e da minha irmã.
Aos 3 anos, eu tinha certeza de que gostava dos meus pais e da minha irmã.
Aos 5 anos, eu tinha certeza de que meu avô iria deixar de
ser uma estrela e eu poderia voltar a visita-lo aos domingos.
Aos 7 anos, eu tinha certeza de que poderia passar o dia
inteiro brincando e comendo bolacha recheada que não enjoaria nunca.
Aos 9 anos, eu tinha certeza de que jamais encontraria pessoa mais chata e irritante que minha irmã.
Aos 9 anos, eu tinha certeza de que jamais encontraria pessoa mais chata e irritante que minha irmã.
Aos 11 anos, eu tinha certeza de que um dia seria um grande
jogador de basquete.
Aos 13 anos, eu tinha certeza de que estava pronto para
beijar a Karina.
Aos 15 anos, eu tinha certeza de que não teria utilidade
decorar as fórmulas sobre geometria e que não faria mal matar umas aulas de vez em quando.
Aos 17 anos, eu tinha certeza de que namorar — antes dos 30, pelo menos — seria
o maior erro que eu poderia cometer (ainda assim, não sei bem por quê, perguntei à Fernanda se ela
queria errar junto comigo).
Aos 19 anos, eu tinha certeza de que os anos na universidade
seriam os melhores da minha vida.
Aos 21 anos, eu tinha certeza de que se eu não parasse de
beber tanto, não chegaria nem aos 25 (mas estava errado).
Aos 23 anos, eu tinha certeza de que não sabia o que fazer
da vida dali pra frente.
Aos 25 anos, eu tinha certeza de que havia escolhido o curso
errado.
Aos 27 anos, eu tinha certeza de que fazia a coisa certa ao
noivar da Gabriela.
Aos 29 anos, eu tinha certeza de que eu não visitaria tantos
países quanto tinha planejado na adolescência.
Aos 31 anos, eu tinha certeza de que aqueles votos proferidos
perante um padre seriam eternos.
Aos 33 anos, eu tinha certeza de que jamais usaria os
conhecimentos acumulados durante os quatro anos de graduação e que a maior
contribuição da faculdade havia sido as horas no bar jogando conversa fora com os amigos.
Aos 35 anos, eu tinha certeza de que as discussões com minha
esposa seriam passageiras, pois nada poderia abalar nossa convicção no amor de
papel passado.
Aos 37 anos, eu tinha certeza de que aquela criança que
ainda era gestada seria o maior presente da minha vida — e seria um grande
jogador de basquete.
Aos 39 anos, eu tinha certeza de que minha filha seria a
única boa contribuição que eu deixaria no mundo.
Aos 41 anos, eu tinha certeza de que deveria parar de fumar.
Aos 43 anos, eu tinha certeza de que minha esposa voltaria
para mim, com nossa filha nos braços, e desistiria da ação de divórcio.
Aos 45 anos, eu tinha certeza de que minha ex-esposa jamais
voltaria para mim.
Aos 47 anos, eu tinha certeza de que era o homem mais
infeliz da face do planeta — o que é pior: ainda mais que meus pais — e que o
suposto “Deus” não passava de um embuste afinal.
Aos 49 anos, eu tinha certeza de que minha filha se apegaria
tanto ao padrasto, que logo eu não faria mais falta a ela, e ela então se
esqueceria de me chamar pelo nome: “papai”.
Aos 51 anos, eu tinha certeza de que detestava trabalhar
naquela mesma empresa há tantas décadas.
Aos 53 anos, eu tinha certeza de que aquela garota mais nova com quem eu me envolvera por impulso, tão cheia
de ânimo e de vontades, não me daria de volta a felicidade que eu tanto
aguardava.
Aos 55 anos, eu tinha certeza que estava tomando a decisão
acertada ao pedir demissão.
Aos 57 anos, eu tinha certeza de que uma mulher tão
bem-resolvida como a Karina não se envolveria com um homem grisalho e sisudo
como eu, embora ela estivesse viúva.
Aos 59 anos, eu tinha certeza de que eu e Karina não nos
separaríamos jamais e, se Deus permitisse, morreríamos juntos.
Aos 61 anos, eu tinha certeza de que adorava ser crítico
gastronômico.
Aos 63 anos, eu tinha certeza de que estava vivendo a época
mais serena e mais prazerosa de minha vida.
Aos 65 anos, eu tinha certeza de que aquele enfisema
pulmonar poderia ser revertido e que eu ainda viveria por décadas.
Aos 67 anos, eu tinha certeza de que Karina nunca iria sair
do meu lado, tampouco minha filha.
Aos 69 anos, eu tinha certeza da proximidade da minha morte,
mas a esperava com inimaginável e sincera tranquilidade.
Aos 71 anos, eu não tinha certeza de mais nada — e nem
precisava.
Este texto é dedicado à Karina, Fernanda e Gabriela, que agora estão cheias de incertezas, mas entendem que, se você não sabe exatamente aonde quer ir, não importa qual caminho irá tomar.
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