Então, é você.
Dentre todos, você.
Quantos mais belos? Quantos mais necessários?
Mas não: você.
Tantos já tentaram, todos já falharam.
E você... quase! Porém, ficou.
Permanece, em um incompreensível movimento,
Que só se explica por sincero sentimento
E não por um atributo qualquer.
Porque não importa quem vier
Nem quantos buquês trouxer,
Ela já preencheu seu jardim
Todo com um único espécime. No fim,
Foi você.
Dentre bilhões no mundo,
Foi você.
Só de convivência diária há tantas opções,
No entanto, ela escolheu, no fundo,
Você.
Não há ninguém além, sem questões,
De você.
Sim, poderia ser alguém mais interessante;
Mais inteligente, alto, forte, elegante;
Alguém que não fosse tão distraído;
Alguém que se garantisse como o melhor marido;
Alguém que estudou bem mais;
Alguém sem nenhum tipo de conflito com os pais;
Alguém que usasse um perfume melhor;
Alguém que não pensasse do futuro o pior;
Alguém que fosse lá e fizesse acontecer;
Alguém que fosse admirado por todo o seu saber;
Algum ativista de causas diversas;
Alguém que sempre estivesse nas melhores conversas;
Algum artista, bem-sucedido na função;
Alguém que parecesse trabalhar por diversão;
Alguém para quem a vida se assemelhasse a uma festa;
Aquela pessoa cuja opinião ninguém contesta;
Alguém que tivesse vasto conhecimento do mundo;
Enfim, alguém que entendesse qualquer assunto a fundo.
E, no entanto,
Contra todas as expectativas,
A melhor escolha não foi
A pessoa melhor
Mas a melhor pessoa
Para ela,
Que é
Você.
Aconteceu de ser
Você.
Não foi o primeiro romance dela,
Mesmo que ele a fizesse rir até chorar.
Não foi tampouco o segundo,
Que a fez entender de verdade o que era se apaixonar.
Nem mesmo o terceiro,
Ainda que eles sempre concordassem sobre o que pedir pro
jantar.
Também não foi o quarto relacionamento,
Cujo término a fez se desidratar de quase chorar
E do qual ela achou que nunca fosse se recuperar.
Não foi o quinto,
Como a cartomante havia feito ela acreditar.
E nem o sexto,
Por que mesmo? Ela nem consegue se lembrar.
O fato é que todos os que vieram antes
Terão que se conformar:
Na mão esquerda dela só há um dedo anelar
E mesmo no coração, com tanto espaço pra amar,
Há uma vaga especial para só um ocupar.
E ele já está cheio, sinto informar,
Cheio por você.
Sim, é realmente você.
Mesmo você comprando o presente no próprio dia;
Mesmo você nem sempre sendo a melhor companhia;
Mesmo você fazendo confusão com as datas;
Mesmo você tendo umas manias tão chatas;
Mesmo você não conseguindo se levantar mais cedo e preparar
o café da manhã;
Mesmo você podendo fazer hoje e deixando para fazer amanhã;
Mesmo você arrumando uma solução quando ela só quer consolo;
Mesmo você sendo incapaz de seguir uma receita sem queimar o
bolo;
Mesmo você reclamando de detalhes sem importância;
Mesmo muitas das discussões sendo por mera implicância;
Mesmo você achando que não merece ser tão feliz;
Mesmo ela não acreditando em tudo o que você diz.
Não obstante essa lista,
Não há maior conquista
Do que você poder dizer
“Sou eu.”
E ter a certeza de que venceu.
Afinal, o que importaria
Mais que esse amor desinteressado?
Que outro título você almejaria
Que não o de namorado?
De que valeria ter todo o resto
Se não pudesse dizer
Que é vão qualquer protesto
Porque ela já escolheu
E ela escolheu
Você?
Se isso não merece
A maior gratidão imaginável
Não sei o que mereceria.
Pois se de muitas coisas você ainda carece
Nenhuma delas é tão indispensável
Quanto aquilo que ninguém descreveria
Com facilidade, mas que
Você possui, de verdade
Porque foi contemplado também
Com o sentimento de liberdade
Que só conhece quem está com alguém.
Por isso, meu caro
Nunca se esqueça,
Ainda que às vezes você se esmoreça,
Algo aqui deve ficar bem claro:
Nunca deixe de agradecer
Por sabe-se lá o que fez ela escolher
Não A, nem B, nem C,
Mas unicamente,
Especialmente,
Inquestionavelmente,
Apaixonadamente
Você.