Eu nunca soube direito o que dizer a um ano que termina. Ao
que chega, é simples; não é necessário dar instrução alguma, ele mesmo dá um jeito
de se ajustar no espaço vacante e começa seu trabalho com impecável maestria. As
despedidas, porém, são meu ponto fraco. E, quase sempre, deixam aquela sensação
agridoce de alívio e culpa. Finalmente, mais um ciclo que se renova; mas,
espera, talvez eu não tenha me despedido dele como deveria, honrado todas as
memórias, demonstrado gratidão ou questionado uma última vez uns porquês. Assim
o é. A cada 31 de dezembro. Eu já passei por quase trinta desses e o engraçado
é que, em vez de melhorar, sempre pioram. É quase que inevitável que cresça a
vontade de um adeus solene, enquanto minhas resoluções de ser mais desapegado
falham miseravelmente mais uma vez.
Este ano (ou ano passado? ou de lá pra cá?), esse martírio
atingiu seu ápice, já que estamos terminando uma década inteira. Os Anos 10. Até
pouco tempo atrás, período famoso pelas chagas da 1ª Guerra Mundial. A partir
de hoje, uma época em que tanto aconteceu que é difícil defini-la em um só evento
ou apenas uma revolução tecnológica. Portanto, fica o questionamento: como se
encerra toda uma década? Tentei responder a isso durante as últimas semanas, conforme
ameaçava-se a virada do calendário, mas confesso que falhei.
O melhor que consegui foi uma missão que autoestipulei de
escrever todos os dias, nem que seja apenas um pouco. Questão de criar o
hábito. Bom, este texto é meu começo favorável. Seria uma pena se eu não
soubesse que falharei miseravelmente muito antes de terminar o ano. Tenho
minhas dúvidas se sequer durará até o mês que vem. Ok, preciso trabalhar no meu
negativismo. De toda forma, foi o máximo que consegui para festejar não somente
a chegada de uma década nova em folha como um ano de dobradinhas. 20-20. Quando
presenciaremos essa maravilha matemática de novo? Daqui a 1100 anos? Parece-me
melhor e mais razoável que aproveitemos agora. Pois bem, são 366 nasceres
solares pela frente – e eu não faço a mínima noção de o que fazer com eles. E
você?
No final, acho que é isto: mais um ano em que fingimos saber
o que estamos fazendo. Tomara que possamos nos aproximar ao menos alguns passos
do caminho correto e que esse duplo 20 seja auspicioso. Sejamos bem-vindos à
nova década! Vai ser fascinante, disso eu tenho certeza. E, bem... nos
encontramos em 2030? Combinado então. Até já!