Eu detesto entrar em livrarias.
Se alguém perguntasse a pessoas que me conhecem, muitos diriam que eu adoro livrarias. E eu adoro. Mas odeio também. Odeio ver pilhas e pilhas de livros, torres de castelos formados por páginas e páginas esperando ser lidas, milhões - talvez bilhões - de caracteres comprimidos para formar belas histórias... sabendo que eu nunca as lerei todas. E é aí que está o problema. De todas as dezenas de centenas de livros, lerei muito poucos: talvez 100, talvez 500 ou talvez nem isso. Os outros, nunca vou chegar a conhecer. Talvez o melhor livro que eu poderia ler na vida está entre esse "resto" que eu seria obrigado a ignorar. Pior: como escolher dentre tantas opções qual levar para casa? Pela capa? Ah, mas um livro péssimo pode parecer espetacular por fora... Pela sinopse? Mas quantas sinopses atraentes não há! (aliás, não é essa a função de toda sinopse, ser atraente?) Resultado: acabo comprando um livro só ou nenhum, quando a minha vontade era ficar sentado no chão da livraria por anos a fio e poder ao menos folhear tantas as páginas quanto meus dedos aguentarem.
Como se não bastasse a sessão de tortura mental, algum habitante sádico do submundo sobe à superfície a cada dois anos e monta uma bienal de livros. Mais precisamente a Bienal Internacional de São Paulo, provavelmente a maior de toda a América Latina. Sempre que eu vou, eu entro no enorme galpão sorrindo como quem ganha no Natal o presente esperado desde a Páscoa, mas, bem lá no fundo, minha vontade é dar meia volta e ir embora. Por quê? Simples: é muito difícil pra mim encarar a realidade de que eu nunca terei tempo hábil para consumir todos aqueles infinitos (ou quase isso) e irresistíveis livros.
Mas tudo bem, não é sempre que vou a uma livraria e tampouco a uma Bienal, então isso não chega a ser um problema. O problema mesmo é o que me espera quando eu chego em casa: uns 30 livros comprados e não lidos, uma lista de 180 livros que eu não tenho e quero ler, 150 filmes para ver, 115 álbuns para ouvir, 30 blogs desatualizados no GReader e pelo menos uns 1000 sites favoritos (em 6 ou 7 navegadores diferentes) para abrir um por um. Parece pouco? É porque eu não estou considerando os quatro seriados que eu acompanho regularmente, os que eu estou na metade e os que já estão na 4ª ou 5ª temporada e eu nem comecei a ver ou só vi o piloto. Somando tudo, deve resultar em cerca de 12 seriados - sendo que só UM deles (Fringe) tem, aproximadamente, 74 horas até agora.
E ainda não acabou! Não acabou porque o mundo continua girando a mais de 1.600km/h e os únicos seres vivos do planeta que detêm o domínio da linguagem continuam produzindo cada vez mais conteúdo: livros, filmes, séries, revistas, etc etc etc. Solução? A solução não importa, importa a consequência, que é a Síndrome do Excesso de Informação: a síndrome daqueles que sabem que há coisa demais para ser vista, ouvida e cheirada em tão pouco tempo. Talvez nem fosse um problema, se fosse só isso que a gente precisasse fazer da vida, o que não é verdade nem de longe.
O paradoxal de tudo isso é que eu não acho ruim de ter tantas opções para me informar, me divertir ou adquirir conhecimento. Só o que eu queria é que, durante algumas horas, a Terra ficasse em pause para que eu pudesse, enfim, dar conta de tudo isso e ainda me dedicar à escrita.
Na verdade, eu tenho muitas outras coisas a dizer sobre o assunto, mas é melhor eu parar por aqui, porque, como já deu pra notar, eu realmente tenho muito a fazer...