terça-feira, 12 de junho de 2012

À Valentina

“Querida Valentina,

— Eu não sei.
— Essa não é a resposta que eu esperava ouvir.
— Isso eu sei. Eu sei exatamente o que você quer ouvir. Ter as respostas certas foi algo que eu aprendi ainda quando estava tentando te conquistar.
— Você não quer mais me conquistar?
— Olhe fundo dentro dos meus olhos e você vai ver o que significa para mim. Tudo que eu faço, faço por ti, e você sabe que é verdade. Só de estar com você já faz do meu dia o melhor da minha vida. Porém, eu jamais quis te ganhar: você não é um prêmio ou uma recompensa. Você não é minha e nunca será: eu quero que sua alma você a mantenha livre.
— Então dê uma resposta à minha primeira pergunta.
— Desculpe, mas não. Você não pode questionar meu amor. É contra a lei.
— Qual lei?
— A lei que rege todos os relacionamentos, aquela que forja as alianças. Como você espera saber se meu amor por você é verdadeiro por meio das minhas respostas, das minhas palavras? Acha mesmo que eu provaria algo se escrevesse e recitasse um soneto de 14 mil versos rimados dedicados à sua beleza?
— Bom, seria sem dúvida um indício de que gosta de mim realmente. Ninguém faria tal coisa somente por orgulho. Mas você, você nunca faria isso mesmo, não se esforçaria assim...
— Dessa vez, não lhe tiro a razão
E, sim, te direi o motivo
Por que tamanha ilusão
Não me faria afetivo.
Um joguete de palavras e versos
Das letras mais douradas e formosas
Qualquer falastrão de quaisquer universos
O usaria com maestria vergonhosa.
Não procures amor no verbo
Dos homens, pois lá
Só encontrará pompa e garbo.
E, no reduto da elegância,
Apenas a falsidade estará
Não há amor na arrogância.
— Então me responda: se eu não posso crer no que você diz, no que vou acreditar? Como vou saber que me ama?
— Não vai. Como você poderia saber o que nem eu mesmo sei? Qual a feição do amor? Eu não faço ideia. Alguma vez já amei? Para mim, ao menos, o amor é o fim e não o começo; assim, quando eu puder definir o amor, haverei chegado ao limite final da vida, à fronteira intransponível mesmo para os anjos.
— Ótimo, agora você vem com conversas filosóficas! Sua inteligência não vai te ajudar a encontrar o amor, querido... Nem eu vou, pelo visto... Então, quando você sussurrava ou gritava seus “eu te amo” tão clichês, você mentia?
— Não, eu apenas estava sendo inocente. Eu confiava que era amor, contudo talvez não fosse. Pode ter sido paixão, afeto, desejo, apreço, idolatria, veneração, admiração, respeito, medo, ódio, temor, carinho, apego, pena. Mas foi amor?
— O que nos traz de volta à minha primeira pergunta.
— Não traz nosso passado de volta, todavia.
— Você está tentando partir meu coração?
— Eu estaria mentindo se dissesse que não seria fácil. Mas, não, não é isso.
— Você me promete o mundo e eu ainda acredito em você, não sei por quê. Disse que seria meu até as estrelas caírem do céu, até que as rimas dos poetas se esgotassem. Pensar que eu acreditei em você, você que conhecia a porta para minha alma.
— Valentina, é verdade que eu necessito de você ao meu lado para me dizer que está tudo bem. Mas é amor isso o que eu sinto? Querida, eu te quero, eu te quero muito, eu não nasci para te perder! Eu poderia escrever uma canção para te mostrar que você não é qualquer uma, contudo eu vejo pelos seus sorrisos que você já sabe que eu não preciso de outra. Você não tem noção de como você é adorável... E, bem, ninguém disse que era fácil. Talvez eu nunca tenha uma resposta para aquela sua pergunta, mas, ainda assim, você me amará amanhã como me amou ontem?

Assim é como imagino que seguiria nossa conversa após você ter me questionado se eu ainda te amaria amanhã como te amei ontem. Naquele dia, quando fugi calado, quis poupar a nós dois da intensa e improfícua conversa que teci nesta carta. No fim, devolvo-te a mesma questão, sem sequer tê-la respondido. Queria ter coragem de te dizer minhas falas olhando fundo nos seus olhos azuis-turquesa, mas achei que te encarar, nesse momento, seria óbvio demais.
Com amor,”


NOTA DO AUTOR: Essa é uma história inteiramente ficcional. Ao longo dela, há referências à canções de The Beatles, Wilco, Oasis, Keane, Coldplay, Mumford & Sons, Bryan Adams, Arctic Monkeys, Dido, Bee Gees, Whitesnake e Bob Dylan. Boa sorte a quem se dispor a encontrá-las!

Um comentário:

  1. Adônis, seu texto (lindo) fez com que eu me sentisse muito burra. Eu só consegui identificar DUAS referências. Duas! E tem Wilco no meio e eu não achei. Chatiada.

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