terça-feira, 16 de outubro de 2012

Contos de William, o Bardo

          Se tem uma característica de Guimarães Rosa que precisa constar em qualquer análise literária de suas obras é seu exacerbado uso de neologismos. “Taurophtongo” (= mugido, dos gregos ‘táuros’ (touro) + ‘phtoggos’ (som da fala)), “ensimesmudo” (= sujeito fechado, de ‘ensimesmado’ + ‘mudo’), “embriagatinhar” (= alguém que engatinha de tão bêbado), “coraçãomente” (= cordialmente) e “nonada” (= coisa sem importância) são todas palavras criadas pelo autor mineiro.
          Mas se, por um lado, ninguém utiliza vocábulos tão peculiares no dia-a-dia, todos os falantes de língua inglesa fazem uso dos neologismos elaborados por um autor inglês, conhecido como O Bardo. Sim, o Bardo de Stratford-upon-Avon (o quão awesome é o nome dessa cidade?): William Shakespeare. O exemplo mais conhecido é a palavra “assassination”. Exatamente: o termo repetido diariamente em quase todos os noticiários do mundo foi uma invenção do pai de Romeu e Julieta. Quer outro exemplo? Há uma montidão [monte + imensidão... gostaram?] deles: champion [campeão], torture [tortura], compromise [acordo; ceder], monumental e até os triviais lonely [solitário] e bedroom (como eles nomeavam o quarto antes eu não faço ideia...).
          Eu sei que parece estranho pensar que palavras tão comuns e tão recorrentes tanto no vocabulário deles quanto no nosso (depois de terem passado por um “aportuguesamento”, claro) só passaram a existir apenas por volta de 1.600. Todavia, se nós pensarmos bem, toda palavra surge de algum lugar, então não faz sentido algum imaginar que de um dia pro outro todos os verbetes estavam prontos para serem usados. E justamente porque cada pequena palavra tem sua própria história é que o estudo da linguagem é tão deslumbrantemente (neologismo?) fascinante para mim.
          Para quem ficou curioso, segue uma lista de outros frutos da genialidade de Shakespeare que, bem ou mal, tornaram-se bastante populares:

- Accuse (acusar)
- Addiction (vício, dependência)
- Advertising (publicidade, propaganda)
- Amazement (espanto, assombro, adimração)
- Bet (apostar; aposta)
- Birthplace (local de nascimento)
- Blanket (cobertor)
- Blushing (corar, ruborizar; tímido)
- Circumstantial (circunstancial)
- Cold-blooded (sangue-frio)
- Countless (incontável)
- Dawn (amanhecer)
- Discontent (discontente)
- Epileptic (epilético)
- Elbow (cotovelo)
- Excitement (exitação)
- Eyeball (globo ocular)
- Gossip (fofoca)
- Green-eyed (olhos verdes)
- Hint (dica, conselho; pista)
- Impartial (imparcial)
- Invunerable (invunerável)
- Majestic (majestoso)
- Mimic (imitar)
- Negotiate (negociar)
- Obscene (obsceno)
- Pedant (pedante; meticuloso; pontual)
- Premeditated (premeditado)
- Secure (seguro, protegido; assegurar)
- Submerge (submergir)
- Worthless (sem valor, inútil)

(No total, o poeta inglês inventou cerca de 1.700 vocábulos que se popularizaram, transformando substantivos em verbos, verbos em adjetivos, juntando palavras em uma única, adicionando prefixos/sufixos etc.)


A lista acima, bem como a última informação entre parênteses, foram retiradas de: http://shakespeare-online.com/biography/wordsinvented.html
Já os exemplos de neologismos rosianos pertencem a: http://veja.abril.com.br/060601/p_162.html

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Tríplice Aliança

Além das ocasiões de escalada na cumplicidade, isto é, quando do namoro surgiu o noivado e quando deste veio o casamento, em três situações tirou a aliança do dedo.

Na primeira, ela enlaçava seu anelar direito. Já há alguns dias exibia com orgulho aquele brilho que lhe custara o salário de toda a primavera. Como durante o verão algumas flores iniciariam um vagaroso processo de recolhimento antes que chegasse a estação seguinte, ele então decidiu trocar as visitas à floricultura (onde encomendava os arranjos multicoloridos) por uma à joalheria. Cinco meses de namoro não eram pouco; na verdade, nenhuma das três garotas anteriores havia aceitado seu jeito errado por tanto tempo. Contudo, não restava dúvidas de que ela o conquistara muito mais do que o inverso. Por isso, naquela aliança estava gravada uma mensagem de agradecimento, mensagem tão apurada que só ela podia sentir.

Naqueles tempos, eles ainda se amavam. Muito. A ponto de rirem um do outro; de discordarem quanto à banda favorita, mas não quanto à música do casal; de não desgrudarem as mãos suadas; de se beijarem como se suas bocas unidas dessem corda em seus corações, para que eles continuassem pulsando. Sim, se amavam, e ele poderia reconhecer a cor dos olhos dela entre outras 999 tonalidades de verde, embora não pudesse nomeá-la. E, agora, havia a aliança para os protegerem contra más venturas: se acaso eles se desentendessem, não poderiam romper seu vínculo, pois isso implicaria em retirar a aliança que, de tão justa, não poderia se desgarrar sem arrancar uma lasca de alma pura.

Ele, entretanto, acabou por aceitar a recomendação de um professor para que mentisse não estar comprometido na entrevista para uma bolsa de estudos na Suíça. Os examinadores costumam supor que aqueles que namoram ou abandonariam a bolsa antes do fim e retornariam por saudades da pessoa querida ou o relacionamento a distância não daria certo, prejudicando a dedicação, a sobriedade e o fígado do estudante. A apenas alguns segundos do momento da entrevista, ele decidiu que seria essa a coisa certa a se fazer: girou a aliança para fora e a guardou no bolso às pressas. Chegou a confessar isso a ela, que, quando acabou de se revoltar, acabou por compreender. O pobre rapaz não foi, contudo, contemplado: perdeu para um candidato que falava três idiomas a mais e que, no dia da seleção, não tinha uma marca vermelha no dedo anelar direito.

Da segunda vez em que deixou sua mão nua, a aliança não era mais prateada, e sim dourada. Discreta, como a atitude deles em público agora. As mãos continuavam entrelaçadas, mas se soltavam à menor necessidade, como pessoas ou postes no meio do caminho. Já não havia mais madrugadas como antes, porquanto a relação estava sossegada como a aurora. Por que ele se incomodava agora se o cabelo dela (que, afinal, só era mesmo sedoso quando ela gastava meia hora aplicando cremes e loções) não conseguia cobrir a ponta de suas orelhas? Seria possível que ela nunca havia reparado que os dentes dele eram realmente tortos, assim como os horríveis dedos do pé? Como se eles não fossem felizes, como se não concordassem satisfeitos que tinham uma história juntos bem mais interessante que o roteiro de qualquer filme romântico.

Desta vez, o consentimento dela veio antes e de imediato. Ele havia rompido um ligamento no pulso e lhe fora solicitado um exame de Ressonância Magnética. Antes de imergir na barulhenta máquina, uma auxiliar de um metro e meio de altura pediu gentilmente que ele se livrasse momentaneamente de qualquer objeto metálico, o anel incluso – exatamente como sua noiva disse que seria necessário. Foi um pouco mais penoso que da vez anterior, uma vez que ele já estava bastante acomodado no dedo, mas logo conseguiu se separar do pequeno grilhão.

Quatro anos e meio depois, foi a vez dela. Primeiro, sua barriga se moldou no formato de um mundo perfeito para um nascituro. Então, faltando dois meses para que o bebê não se contivesse mais dentro de sua mãe, o organismo dela começou a reter líquidos e seus dedos – tão acariciados pelo seu marido por toda a gravidez – começaram a inchar. Temendo que sua aliança tivesse de ser impiedosamente cortada, ela mesma teve a iniciativa de guardá-la em uma gaveta.

A terceira vez em que o homem deixou que o elo de ouro o abandonasse não foi notada. Ele nunca foi capaz de se recordar onde e nem quando isso aconteceu. Só sabia que fora depois da morte de sua mulher, pois jurava que da última vez em que ela, debilitada em uma cama branca de hospital com os olhos semicerrados, segurou sem forças sua mão esquerda, os anéis se encontraram e tilintaram baixinho.

A mais graciosa das metades do casal agora repousava fria embaixo da sonolência da terra afofada. Em um dos poucos momentos em que estava sóbrio, e não embriagado pelas lágrimas do luto, ele sentiu falta do círculo que o abraçava quando sua mulher não podia. Sendo incapaz de encontrar sua própria aliança, recorreu sem pensar duas vezes à de sua amada, pois ela talvez ainda guardasse lembranças do suor tão puro daquela que não voltaria mais. Repetiu o gesto de seu casamento, mas desta vez era sua própria mão que recebia o aro reluzente. Estavam juntos de novo. Presos um ao outro, não desejavam liberdade.

E não houve uma quarta vez.

domingo, 9 de setembro de 2012

As Capas de Harry Potter pelo Mundo

         Setembro já começou e promete carregar para longe as tão mencionadas agruras do mês anterior. Isso porque, além dos melhores seriados americanos estarem de volta com novos episódios, a verdadeira fundadora de Hogwarts, J. K. (Juscelino Kubitschek) Rowling, vai se arriscar novamente no universo literário e lançar The Casual Vacancy - que, não tenha dúvidas, trata de "trouxas" e nada mais. Mesmo sabendo que não encontrarei nele referências da saga de Hermione Granger e seus dois amigos, confesso estar bastante empolgado para ver como Joanne vai lidar com motes adultos. Obviamente, fiquei ainda mais curioso depois de Michael Pietsch, editor do livro, ter se referido à autora como gênia e ter dito que a história o lembrou de Dickens "por causa da humanidade, do humor, das preocupações sociais, dos personagens fortemente reais". Tendo em vista que seu lançamento se aproxima, nenhum momento seria oportuno para relembrarmos de Harry Potter, a "septologia" que, como a série Friends e o filme De Volta para o Futuro, virou uma verdadeira referência e, como tal, nunca é realmente esquecida (talvez com um obliviate coletivo?).
       Motivado por uma curiosidade repentina, dia desses quis saber como eram as capas de Harry Potter em outros países e, apesar de ter encontrado vários sites a respeito, eu (e minha inseparável meticulosidade) senti falta de um post bem organizado e completo que pudesse indicar aqui; assim, resolvi fazer um eu mesmo. Para isso, percorri a internet coletando várias e várias imagens e, embora não possa dizer que meu post sim está completo, compilei a grande maioria do que encontrei - deixando algumas poucas de fora.
       Vou guardar meus comentários para o final, mas, antes, acho necessário observar que a famosa capa ilustrada pela americana Mary GrandPé para a editora Scholastic é utilizada não só nos Estados Unidos e no Brasil, como na Noruega, Rússia, Israel, Polônia, Croácia, Coréia, Indonésia, Romênia, África do Sul, Turquia, Bulgária, China, Estônia, Lituânia etc. Para evitar repetições, coloquei apenas a versão original, amerciana, uma vez que a única diferença entre ela e as outras são o título e o subtítulo (como você pode ver nessa capa taiwanesa, nessa turca e nessa israelita; já os gregos têm versões da capa inglesa). Vocês vão notar ainda que, por alguma razão, é muito mais fácil encontrar imagens do primeiro volume, «Pedra Filosofal», do que dos demais.
     Eu também peço desculpas por não ter colocado figuras maiores, ainda que valha a pena observar mais detalhadamente algumas. O problema é que são 118 imagens e, se eu as ampliasse, o post ia ficar maior e mais pesado do que já está.


Harry Potter e a Pedra Filosofal





Harry Potter e a Câmara Secreta





Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban





Harry Potter e o Cálice de Fogo





Harry Potter e a Ordem da Fênix





Harry Potter e o Enigma do Príncipe





Harry Potter e as Relíquias da Morte


          Agora, algumas considerações:

- Antes de mais nada: o que são essas capas da Finlândia??? Absolutamente medonhas!
- E as japonesas? Tenho minhas dúvidas se eles conseguiram captar a essência da história (apesar de terem ficado bem originais). A versão alemã é um tanto caricatural, mas me agradou... A francesa também não é nada mal (em particular a do 7), mas prefiro a espanhola à ela;
- Sobre «Pedra Filosofal» (Philosopher's Stone para os britânicos e Sorcerer's Stone para os americanos): tenho vontade de gritar com tanta bizarrice. Os islandeses, os iranianos e os armênios que me desculpem, mas só posso imaginar que havia algum complô nesses países para boicotar as vendas dos livros! E essa boca no Chapéu Seletor tcheco? Os portugueses, coitados, ganharam essa capa completamente infantil, como se a faixa etária dos leitores de Harry Potter não pudesse ultrapassar os 10 anos (imagine que os ingleses exigiram as capas adultas porque ficavam constrangidos de ler os livros com a capa original em público); felizmente, a partir de «Prisioneiro de Azkaban», a editora portuguesa adotou as ilustrações americanas, da GrandPré. Quanto à holandesa de bolso, eu só fiquei em dúvida se aquelas nuvens estão lá por acaso ou se representam, não sei, o quadribol;
- Em «Câmara Secreta», chama-me atenção a dinamarquesa com uma naja na capa ao invés do basilisco, o qual - até onde se sabe - não possui essa habilidade de dilatar o pescoço;
- Bicuço em 12 das 16 capas de «Prisioneiro de Azkaban»!
- Acho que «Cálice de Fogo» é o único caso em que não tenho muita afeição pela capa da GrandPré, acho que eu prefiro a inglesa ou a francesa.
- Em «Ordem da Fênix», não há tanto consenso quanto ao que retratar: alguns desenharam até os Testrálios, outro a luta final no Ministério (destaque para Harry fazendo beatbox na capa dinamarquesa);
- Uma dica para a Ucrânia: não é uma boa opção misturar roxo com amarelo-marca-texto e verde-limão, como na capa de «Enigma do Príncipe»;
- E é notável que eles capricharam muito na capa de «Relíquias da Morte», a maioria está bem desenvolvida: a francesa, a espanhola, a holandesa, a sueca, a dinamarquesa... Ironicamente, não gosto da capa infantil da Bloomsbury para o livro 7... acho que ela transmite uma ideia muito colorida para uma história tão "sombria" e lúgubre. Sem falar na italiana, a mais estranha de todas;
- Por fim, não sei vocês, mas eu adorei todas as capas da versão adulta da Bloomsbury. Tão lindas quanto são as da Signature Version, ilustradas pela Clare Melinsky, e que estão sendo lançadas agora (R$169,90 na Submarino)... Eu só não compro a coleção toda com essa capa porque, por razões sentimentais, não conseguiria me desfazer da que eu já tenho, com os desenhos imortalizados da Mary GrandPré e as folhas sutilmente machucadas por meus dedos ansiosos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mil-novecentos-e-um

          Eu não lembro exatamente o que senti ao ouvir a voz da Birdy pela primeira vez (e nem adiantaria lembrar, já que não conseguiria descrever), mas o que eu sei é que foi uma sensação maravilhosa, de bem-estar imediato e calma absoluta. Lágrimas devem ter escorrido no lado de dentro do meu rosto enquanto eu escutava a voz daquela garota, acompanhada somente de um piano (que é por excelência um dos instrumentos mais sublimes - alguém discorda?). Pode parecer exagerado - não sem motivo -, mas o exagero verbal é o único artifício de que disponho para fazer vocês entenderem que eu inexplicavelmente me apaixonei pela música dela. Que me desculpem Etta James, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Adele, Janelle Monáe e tantas outras, mas foi a voz de uma garota de 15 anos que me deixou realmente perplexo e me levou - naquela mesma hora - a procurar todas as outras músicas interpretadas pela Birdy que havia no Youtube.
          Se você não a conhecia ainda, quando for ouvir alguma de suas canções é bem provável que não sinta o que eu senti. Não me culpe. Cada um tem suas próprias músicas que ressonam na frequência certa de sua felicidade interna. Na verdade, quando fui ler as resenhas a respeito do primeiro (e único) álbum dela ("Birdy"), percebi que concordava com muitas das críticas: ela canta muito bem, contudo ainda é muito jovem e precisa melhorar em vários aspectos técnicos. Isso quando estou lendo em silêncio. Quando coloco o cd pra tocar, basta um mínimo de segundos para que eu me esqueça de tudo isso e admita, sem relutância, que aquele é um dos melhores discos que eu já escutei este ano. Acho, sinceramente, que é um dos poucos álbuns em que não retiraria nenhuma faixa. Foi realmente incrível ir ao cinema assistir Valente (animação da Disney/Pixar de 2012) há algumas semanas e reconhecer a voz da Birdy entre trilha-sonora do filme, como se já não bastasse a beleza do majestoso cenário da Escócia mítica.
          Caso queira uma indicação da melhor música dela, já aviso que não sou a pessoa mais adequada para responder isso - eu não conseguiria indicar menos de cinco. Mas, é claro, tem as mais conhecidas, como Skinny Love, People Help People, Shelter, The A Team e Without a Word (esta última composta por ela). A que eu trago aqui é "1901", que abre o álbum, um cover da banda Phoenix. Sobre a banda francesa Phoenix eu sei pouco, mas gosto do pouco que conheço, como Lisztomania, Rome e If I Ever Feel Better. No entanto, confesso que, nesse caso, prefiro (adivinhem!) a versão dela, da Birdy, a.k.a. Jasmine van den Bogaerde. Apesar de ser a mesma música, cada um girou o caleidoscópio para um lado e acabam apresentando versões essencialmente diferentes. Cabe a você eleger qual a melhor ou, por que não, apreciar de bom grado as duas.



"Fold it, fold it, fold it, fold iiit"


          Em tempo: a Fran também escreveu sobre a Birdy e, inclusive, explica de onde veio esse apelido curioso: http://www.meupalanque.com/2012/06/indicacao-musical-birdy.html

sábado, 28 de julho de 2012

Entre o Verde e o Azul: uma resenha de "A Culpa é das Estrelas", de John Green

          O título, retirado de um trecho da obra “Júlio César” de Shakespeare (“The fault, dear Brutus, is not in our stars, but in ourselves”), não dá muitas pistas sobre o enredo. “A Culpa é das Estrelas” (The Fault In Our Stars, no original), na verdade, trata sim sobre culpa, mas de uma forma bastante inesperada. Quem protagoniza esse livro tão divertido e tocante é Hazel Grace Lancaster, uma menina de 16 anos com câncer terminal. É ela quem narra em 1ª pessoa e divide com o leitor, por exemplo, suas inquietações; observações mordazes sobre o comportamento das pessoas de seu convívio; e as dificuldades de praticamente não conseguir respirar sem um cilindro de oxigênio, que carrega aonde quer que vá.

“Faltando pouco para eu completar meu décimo sétimo ano de vida, minha mãe resolveu que eu estava deprimida, provavelmente porque quase nunca saia de casa passava horas na cama, lia o mesmo livro várias vezes, raramente comia e dedicava grande parte do meu abundante tempo livre pensando na morte. Sempre que você lê um folheto, uma página da Internet ou sei lá o que mais sobre câncer, a depressão aparece na lista dos efeitos colaterais. Só que, na verdade, ela não é um efeito colateral do câncer. É um efeito colateral de se estar morrendo. (O câncer também é um efeito colateral de se estar morrendo. Quase tudo é, na verdade.)”
  
          Hazel tem pais bastante protetores – sua mãe dedica-se quase que exclusivamente à filha e seu pai chora com frequência – e é notavelmente intensa, esperta e psicologicamente forte, mas sem deixar de ser amável. A primeira surpresa aqui é que o escritor, John Green, é um homem de 34 anos (e que não tem filhas, apenas um filho) que consegue com muita habilidade e destreza escrever todo um livro do ponto de vista de uma garota adolescente. Não que muitos autores não tenham sido bem sucedidos em fazer isso antes, mas eu, como escritor, acho fundamental reconhecer esse mérito: é um enorme desafio para um homem assumir um eu-lírico feminino, ainda mais feminino e jovem. Outra observação que faço é sobre o nome da protagonista: o autor disse que escolheu “Hazel” – que em inglês designa a (linda) cor de olho que é um meio-termo entre azul e verde –, pois a personalidade dela também é um meio-termo.

“(...)me ocorreu que a ambição voraz dos seres humanos nunca é saciada pelos sonhos que se tornam realidade, porque sempre persiste o pensamento que tudo pode ser feito melhor e de novo.
Isso provavelmente é verdade mesmo para quem chega aos noventa - embora eu tenha inveja das pessoas que vão chegar lá para descobrir por si mesmas.”
[tradução livre]
  
          Em um Grupo de Apoio para crianças com câncer, Hazel conhece Augustus Waters, um ano mais velho. Ela descreve Augustus como muito bonito e atraente; ele teve osteossarcoma quando mais novo e, por conta disso, amputou a perna direita – utilizando, agora, uma prótese no lugar. Hazel vai descobrindo aos poucos que o garoto também tem uma verdadeira fascinação por metáforas, o que torna muitas de suas reflexões realmente interessantes. A primeira conversa entre os dois é pontuada por um diálogo sarcástico, peculiaridade que está presente quase sempre que os dois se falam. Ainda que já tenha visto isso em outros livros, ainda acho um pouco inverossímil jovens sempre com diálogos tão elaborados e perspicazes, mas isso não é realmente uma crítica: é esse sarcasmo que muitas vezes dá o tom divertido do livro e ainda evidencia a grande afinidade e intimidade que logo surge entre os dois (a exemplo de Emma e Dexter em “Um Dia”, de David Nicholls).

— Meu livro favorito é provavelmente Uma Aflição Imperial – eu disse.
— Tem zumbis nele? – ele perguntou.
— Não.
Stormtroopers?
Eu balancei a cabeça em negação.
— Não é do tipo que eu gosto. – Ele sorriu. – Mas eu vou ler esse livro terrível com um título chato e que não tem stormtroopers.
[tradução livre] 

          Aproveitando a deixa, provavelmente inspirado por este post da Fran, eu me atrevo a comparar que Hazel e Augustus, em questão de maturidade, se encontram entre Emma e Dexter – que começam a história com 22 anos – e Liesel e Rudy (do também excelente “A Menina Que Roubava Livros”, de Markus Zusak) – que ainda preservam a inocência dos 10/11 anos. Hazel Grace e Augustus Waters rapidamente se tornam bons amigos e é essencialmente em torno dessa grande amizade que o livro é construído. É muito bonita a afeição que um tem pelo outro, sendo natural que o próprio leitor acabe se afeiçoando a ambos. Quando eles estão juntos, compartilham reflexões fascinantes – algumas vezes sobre suas doenças, mas nem sempre.

“Você nunca se preocupa em saber se ela é mais esperta do que você: você sabe que ela é. Ela é engraçada sem precisar ser maldosa.”
(Augustus sobre Hazel)
[tradução livre]
  
         O que aproxima a obra da nossa realidade são algumas peculiaridades como a menção ao programa  Americas Next Top Model  e à uma rede social similar ao Facebook. Em um dado momento, por exemplo, Hazel espiona o “mural virtual” de uma jovem garota que havia falecido de câncer e fica um pouco perturbada com algumas mensagens de condolências que encontra.

Era um número sem fim de pessoas que sentiam a falta dela. Eram tantas, que eu levei uma hora no mural descendo a barra de rolagem para passar das mensagens de “Sinto muito que você está morta” para “Estou rezando por você”.
[tradução livre]

         Outro aspecto muito interessante é que uma parte da história se desenvolve a partir do livro favorito de Hazel, “Uma Aflição Imperial”, escrito por Peter Van Houten, e cuja protagonista e narradora, Anna, também tem câncer – havendo, inclusive, uma citação dessa obra no início de “A Culpa é das Estrelas”. Existe, portanto, essa metalinguagem deliciosa, que explora a relação de Hazel com um livro que é notável e essencialmente diferente do de John Green. Apesar do autor ressaltar que esta é uma obra de ficção e que nem sempre é fiel à realidade, muitas de suas descrições são tão detalhadas que quase nos permite ver as imagens pintadas entre aquelas palavras. Exemplos disso são as descrições da cidade de Indianapolis – onde ele mora, e onde se passa a maior parte da história – e da Casa de Anne Frank, onde a jovem judia que escreveu o famoso diário morou depois de fugir da Alemanha, e que hoje é um museu.
          Quanto ao final, acho que ele é perfeito. Demorei algum tempo para perceber isso após terminar o livro, mas acabei admitindo que não poderia ser diferente – e John Green curiosamente te condiciona durante todo o livro a chegar a essa mesma conclusão.
          Minha última consideração é que a obra, ainda que gire ao redor de protagonistas com câncer e que provoque aquela sensação de que deveríamos ser gratos por conseguirmos fazer coisas simples como subir escadas, não é sobre câncer; não se resume a isso. É, na verdade, um retrato emocionante e muito bem escrito sobre como Hazel Grace vê o mundo e filosofa sobre ele. E também acho que não é demais qualificar algumas passagens de “A Culpa é das Estrelas” como geniais, como, por exemplo, as referências, ao longo do livro, às tulipas, flores que se tornam mais bonitas quando “doentes”. Não garanto as lágrimas, porém posso assegurar as risadas e uma história bonita e marcante, que dificilmente será esquecida.

 “The Fault in our Stars” é o quarto romance de John Green (autor de “Quem É Você, Alasca”) e foi lançado em 2012 pela editora Dutton Books. Aqui no Brasil, foi publicado como “A Culpa é das Estrelas” pela editora Intrínseca em julho de 2012.

P.S.: Há outra citação do livro no meu tumblr de citações http://admiraveismundosnovos.tumblr.com

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta


          Não poderia ser mais simples. Também pudera, não é nada além de símbolos enfileirados. Símbolos estranhos, definitivamente. Qual a grande genialidade por trás desses traços e curvas? Dê a uma criança de pouca idade papel e canetinha e ela poderá lhe surpreender com novos símbolos que ela mesma criou. Aliás, alguém poderia ser menos criativo ao instituir um tímido e insignificante ponto para frear as orações e dar lugar a outras? Um ponto: um pouco de tinta que, acidentalmente, pinga no papel e, acidentalmente, encerra uma história. Não uma história qualquer, todas as histórias. Quando Shakespeare talhou com tanto cuidado aquela história de amor e juventude, após pensar no último verso, ele pensou no ponto. Exatamente o mesmo ponto que encerrou a longa viagem de Ulisses e celebrou sua volta para os braços de Penélope. Goethe, aquele do amor e sofrimento, levou a vida inteira para pintar a tragédia do pobre Fausto – uma vida inteira até que o ponto final tivesse lugar na última página.
          Mas será que eu dei a entender que o ponto tem alguma importância? Se sim, desculpe. O ponto não vale absolutamente nada. Nenhuma das letras valem. O problema é que elas te fazem crer o contrário. Se eu as rechaço por meio de uma mensagem escrita, parece que estou me contradizendo. Não. São somente elas, as malditas letras, que se unem com o fim de me desmoralizar. Se eu estou parecendo insano e o que eu escrevo não parece ter muito sentido, então dou a elas o mérito de terem alcançado seu objetivo. Antes, porém, vou recorrer a uma analogia para forçar a imaginação de quem lê e, assim, desviar sua atenção desses símbolos traiçoeiros.
          Imagine-se olhando para um céu limpo e estrelado. Alguém te pede que você veja as estrelas, o que é bastante simples. Você olha para cima e vê os pequenos brilhos sem maiores problemas. Sim, cada uma daquelas pequenas luzes oblíquas e dissimuladas escondem em si corpos celestes colossais, alguns muito maiores do que a Terra ou do que a nossa própria imaginação. Mas, ainda assim, nunca deixaram de ser estrelas. Agora, você é solicitado para criar desenhos entre elas. Mesmo que você não saiba nem localizar as Três Marias do Cinturão do Órion, você – com um pouco de boa vontade – será capaz de imaginar várias figuras estampadas no céu escuro. Não, elas não estão lá, nenhuma delas, afinal são só estrelas, lembra-se?, mas de alguma forma você consegue vê-las e contemplá-las sem muito esforço. E talvez, como eu, você enxergue na constelação de Leão um rato ou um cavalo, não importa. Importa que as constelações não estão lá no alto, senão em sete bilhões de espaços aqui embaixo.
          O que a gente apreende disso é que o que você, leitor, não está lendo o que eu escrevo. Porque as letras são estrelas e, conquanto elas sejam sempre iguais, o sentido que cada um dá a elas e as palavras é muito pessoal. Claro que a gente tenta introjetar em cada inocente ser humano essa uniformidade linguística, fazer com que todos sorvam os vocábulos do mesmo jeito, mas – como em todo processo que se preze – nesse também há falhas. São falhas impecáveis que só fazem aperfeiçoar esse sistema, e não o contrario. Enquanto essa padronização permite que nos comuniquemos, sua imperfeição possibilita que cada um tenha seu próprio caleidoscópio para apontar à vontade e ver o que quiser.
          Por isso, sinto muito, você jamais vai ler a história sobre Bentinho e Capitu que Machado de Assis genialmente imaginou. A história dele é só dele e nunca será de mais ninguém. E a questão – caso ainda não esteja claro – não são os múltiplos sentidos de cada palavra, listados pretensiosamente no dicionário; e sim a interpretação de cada um desses símbolos, que se confundem (sem seu consentimento) com tudo o que você já viveu. Quase como aquele cheiro de amora que carrega você – e apenas você – à lembrança enevoada de quando você apanhava amoras com sua avó no parque, quinze anos atrás.
          Tudo isso porque hoje é Dia do Escritor e as pessoas estão enaltecendo escritores dos mais diversos e suas obras – o que faz sentido –, mas estão se esquecendo de que textos são apenas depósitos de letras e aquele os organiza não deve ficar com o mérito sozinho. Afinal, cada história que você leu, é parte sua também. Isso posto, acho que mais do que celebrarmos, deveríamos ficar felizes por sermos dotados desta capacidade tão fantástica e extraordinária de construirmos histórias, mundos e personagens – a qualquer momento e em qualquer lugar, sendo escritores ou leitores ou nenhum dos dois.
          Não é o que está escrito. É você
          Ponto final


P.S.: O título é inspirado por uma trecho de A Hora da Estrela, da Clarice-de-todas-as-frases, e que pode ser lido aqui: http://claricelispector.blogspot.com.br/2008/04/hora-da-estrela-1-parte.html

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parem o mundo. Sério.

Eu detesto entrar em livrarias.
Se alguém perguntasse a pessoas que me conhecem, muitos diriam que eu adoro livrarias. E eu adoro. Mas odeio também. Odeio ver pilhas e pilhas de livros, torres de castelos formados por páginas e páginas esperando ser lidas, milhões - talvez bilhões - de caracteres comprimidos para formar belas histórias... sabendo que eu nunca as lerei todas. E é aí que está o problema. De todas as dezenas de centenas de livros, lerei muito poucos: talvez 100, talvez 500 ou talvez nem isso. Os outros, nunca vou chegar a conhecer. Talvez o melhor livro que eu poderia ler na vida está entre esse "resto" que eu seria obrigado a ignorar. Pior: como escolher dentre tantas opções qual levar para casa? Pela capa? Ah, mas um livro péssimo pode parecer espetacular por fora... Pela sinopse? Mas quantas sinopses atraentes não há! (aliás, não é essa a função de toda sinopse, ser atraente?) Resultado: acabo comprando um livro só ou nenhum, quando a minha vontade era ficar sentado no chão da livraria por anos a fio e poder ao menos folhear tantas as páginas quanto meus dedos aguentarem.
Como se não bastasse a sessão de tortura mental, algum habitante sádico do submundo sobe à superfície a cada dois anos e monta uma bienal de livros. Mais precisamente a Bienal Internacional de São Paulo, provavelmente a maior de toda a América Latina. Sempre que eu vou, eu entro no enorme galpão sorrindo como quem ganha no Natal o presente esperado desde a Páscoa, mas, bem lá no fundo, minha vontade é dar meia volta e ir embora. Por quê? Simples: é muito difícil pra mim encarar a realidade de que eu nunca terei tempo hábil para consumir todos aqueles infinitos (ou quase isso) e irresistíveis livros.
Mas tudo bem, não é sempre que vou a uma livraria e tampouco a uma Bienal, então isso não chega a ser um problema. O problema mesmo é o que me espera quando eu chego em casa: uns 30 livros comprados e não lidos, uma lista de 180 livros que eu não tenho e quero ler, 150 filmes para ver, 115 álbuns para ouvir, 30 blogs desatualizados no GReader e pelo menos uns 1000 sites favoritos (em 6 ou 7 navegadores diferentes) para abrir um por um. Parece pouco? É porque eu não estou considerando os quatro seriados que eu acompanho regularmente, os que eu estou na metade e os que já estão na 4ª ou 5ª temporada e eu nem comecei a ver ou só vi o piloto. Somando tudo, deve resultar em cerca de 12 seriados - sendo que só UM deles (Fringe) tem, aproximadamente, 74 horas até agora.
E ainda não acabou! Não acabou porque o mundo continua girando a mais de 1.600km/h e os únicos seres vivos do planeta que detêm o domínio da linguagem continuam produzindo cada vez mais conteúdo: livros, filmes, séries, revistas, etc etc etc. Solução? A solução não importa, importa a consequência, que é a Síndrome do Excesso de Informação: a síndrome daqueles que sabem que há coisa demais para ser vista, ouvida e cheirada em tão pouco tempo. Talvez nem fosse um problema, se fosse só isso que a gente precisasse fazer da vida, o que não é verdade nem de longe.
O paradoxal de tudo isso é que eu não acho ruim de ter tantas opções para me informar, me divertir ou adquirir conhecimento. Só o que eu queria é que, durante algumas horas, a Terra ficasse em pause para que eu pudesse, enfim, dar conta de tudo isso e ainda me dedicar à escrita.
Na verdade, eu tenho muitas outras coisas a dizer sobre o assunto, mas é melhor eu parar por aqui, porque, como já deu pra notar, eu realmente tenho muito a fazer...

terça-feira, 12 de junho de 2012

À Valentina

“Querida Valentina,

— Eu não sei.
— Essa não é a resposta que eu esperava ouvir.
— Isso eu sei. Eu sei exatamente o que você quer ouvir. Ter as respostas certas foi algo que eu aprendi ainda quando estava tentando te conquistar.
— Você não quer mais me conquistar?
— Olhe fundo dentro dos meus olhos e você vai ver o que significa para mim. Tudo que eu faço, faço por ti, e você sabe que é verdade. Só de estar com você já faz do meu dia o melhor da minha vida. Porém, eu jamais quis te ganhar: você não é um prêmio ou uma recompensa. Você não é minha e nunca será: eu quero que sua alma você a mantenha livre.
— Então dê uma resposta à minha primeira pergunta.
— Desculpe, mas não. Você não pode questionar meu amor. É contra a lei.
— Qual lei?
— A lei que rege todos os relacionamentos, aquela que forja as alianças. Como você espera saber se meu amor por você é verdadeiro por meio das minhas respostas, das minhas palavras? Acha mesmo que eu provaria algo se escrevesse e recitasse um soneto de 14 mil versos rimados dedicados à sua beleza?
— Bom, seria sem dúvida um indício de que gosta de mim realmente. Ninguém faria tal coisa somente por orgulho. Mas você, você nunca faria isso mesmo, não se esforçaria assim...
— Dessa vez, não lhe tiro a razão
E, sim, te direi o motivo
Por que tamanha ilusão
Não me faria afetivo.
Um joguete de palavras e versos
Das letras mais douradas e formosas
Qualquer falastrão de quaisquer universos
O usaria com maestria vergonhosa.
Não procures amor no verbo
Dos homens, pois lá
Só encontrará pompa e garbo.
E, no reduto da elegância,
Apenas a falsidade estará
Não há amor na arrogância.
— Então me responda: se eu não posso crer no que você diz, no que vou acreditar? Como vou saber que me ama?
— Não vai. Como você poderia saber o que nem eu mesmo sei? Qual a feição do amor? Eu não faço ideia. Alguma vez já amei? Para mim, ao menos, o amor é o fim e não o começo; assim, quando eu puder definir o amor, haverei chegado ao limite final da vida, à fronteira intransponível mesmo para os anjos.
— Ótimo, agora você vem com conversas filosóficas! Sua inteligência não vai te ajudar a encontrar o amor, querido... Nem eu vou, pelo visto... Então, quando você sussurrava ou gritava seus “eu te amo” tão clichês, você mentia?
— Não, eu apenas estava sendo inocente. Eu confiava que era amor, contudo talvez não fosse. Pode ter sido paixão, afeto, desejo, apreço, idolatria, veneração, admiração, respeito, medo, ódio, temor, carinho, apego, pena. Mas foi amor?
— O que nos traz de volta à minha primeira pergunta.
— Não traz nosso passado de volta, todavia.
— Você está tentando partir meu coração?
— Eu estaria mentindo se dissesse que não seria fácil. Mas, não, não é isso.
— Você me promete o mundo e eu ainda acredito em você, não sei por quê. Disse que seria meu até as estrelas caírem do céu, até que as rimas dos poetas se esgotassem. Pensar que eu acreditei em você, você que conhecia a porta para minha alma.
— Valentina, é verdade que eu necessito de você ao meu lado para me dizer que está tudo bem. Mas é amor isso o que eu sinto? Querida, eu te quero, eu te quero muito, eu não nasci para te perder! Eu poderia escrever uma canção para te mostrar que você não é qualquer uma, contudo eu vejo pelos seus sorrisos que você já sabe que eu não preciso de outra. Você não tem noção de como você é adorável... E, bem, ninguém disse que era fácil. Talvez eu nunca tenha uma resposta para aquela sua pergunta, mas, ainda assim, você me amará amanhã como me amou ontem?

Assim é como imagino que seguiria nossa conversa após você ter me questionado se eu ainda te amaria amanhã como te amei ontem. Naquele dia, quando fugi calado, quis poupar a nós dois da intensa e improfícua conversa que teci nesta carta. No fim, devolvo-te a mesma questão, sem sequer tê-la respondido. Queria ter coragem de te dizer minhas falas olhando fundo nos seus olhos azuis-turquesa, mas achei que te encarar, nesse momento, seria óbvio demais.
Com amor,”


NOTA DO AUTOR: Essa é uma história inteiramente ficcional. Ao longo dela, há referências à canções de The Beatles, Wilco, Oasis, Keane, Coldplay, Mumford & Sons, Bryan Adams, Arctic Monkeys, Dido, Bee Gees, Whitesnake e Bob Dylan. Boa sorte a quem se dispor a encontrá-las!