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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Menino Que Reviveu: uma resenha de "Harry Potter and the Cursed Child" [sem spoilers]

A cicatriz não incomodara Harry nos últimos dezenove anos. Tudo estava bem.
Só que não.

Créditos: Mental_floss (montagem) / Amazon (capa) / iStock (fundo)

Poucos livros chegaram tão de surpresa quanto “Harry Potter and the Cursed Child”. Não me refiro à data de lançamento – 31 de julho deste ano –, que não só foi aguardada pelos fãs durante semanas, como é até bastante óbvia: o dia coincide tanto com o aniversário de Harry, quanto com o de sua própria autora/criadora. O fato surpreendente é anterior a isso: desde que colocou um ponto final (plot twist: era um ponto-e-vírgula) na saga de Harry, Rony & Hermione, Joanne Rowling não descartava completamente a possibilidade de um oitavo livro, mas sempre disse (até ano passado) que achava improvável de acontecer, uma vez que a história, bem como seu final, fora muito bem amarrada. Logicamente, isso fez com que a maioria de seus seguidores – com exceção dos fãs brasileiros que-não-desistem-nunca – admitisse que Harry Potter 8 ficaria somente no mundo das ideias e, quem quisesse, que se contentasse com fanfics. Hoje a gente percebe que, uma vez mais, JKR, ao nunca dizer nunca, estava tão somente dando uma de sábia.

Seria injusto falar que Cursed Child – ou “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, na tradução brasileira que sairá pela Rocco em 31 de outubro – é uma continuação da série. Na verdade, ela não é; mas é igualmente verdade que, nesse novo livro, somos confrontados novamente com muitos dos antigos personagens, e, claro, acabamos conhecendo seu destino, mais de dezenove anos depois da Batalha de Hogwarts. Também é importante ressaltar que as 320 páginas tratam, na realidade, do roteiro de uma peça homônima, encenada no Palace Theatre, em Londres (Inglaterra), em duas partes. Isso significa que o livro é, basicamente, como as obras de Shakespeare: apenas diálogos, entremeados por breves descrições, como:

“Uma estação cheia e movimentada. Apinhada de transeuntes tentando ir a algum lugar. No meio de toda aquela circulação e confusão, duas gaiolas sacodem em cima dos carrinhos que os dois garotos, Tiago Potter e Alvo Potter, empurram. Logo atrás, vem a mãe deles, Gina. Seguem-nos um homem de trinta e sete anos, Harry, e sua filha, Lílian, em seus ombros.”
[primeiras linhas, tradução livre]



Um outro ponto, que quem leu a sinopse já sabe, é que os protagonistas, desta vez, são o Albus/Alvo e o Scorpius/Escórpio* Malfoy, e não os seus pais. Mas, de novo, isso não impede que haja várias cenas apenas com os personagens originais (o trio, Draco etc.) – e menções a tantos outros que não chegam a dar as caras, então, de certa forma, é, sim, uma continuação, mas contada do ponto de vista dos filhos. Esse, no entanto, não é um ponto negativo: independentemente do retorno a Hogwarts (que perde um pouco da magia sem a descrição detalhada dos cenários), creio que o principal atrativo de Cursed Child seja esse apelo em forma de uma flechada certeira direto na nostalgia de quem acompanhou Potter & cia em outras aventuras.

Notavelmente é aí que mora o maior risco dessa continuação e explica o porquê de eu ter ficado agoniado enquanto lia. O mundo bruxo criado pela Joanne, como sabemos, corria, desde o início, o grande risco de decepcionar com soluções fáceis: se a magia resolvesse tudo, não faria nem sentido todas as dificuldades e percalços enfrentados pelos personagens ao longo de sete anos. A saída encontrada pela autora funcionou muito bem: impor certos limites às soluções mágicas, como, por exemplo, os jovens não poderem fazer magia fora da escola; não ser possível (des)aparatar em Hogwarts; e, o principal, ser impossível trazer alguém de volta à vida. Entretanto, em vez de aplicar a mesma regra da ressuscitação à polêmica questão das viagens no tempo, ela sentiu vontade de brincar com essa possibilidade e nos apresentou ao maravilhoso artefato do vira-tempo. E é aí que reside o problema.

Em uma história comum, que eventualmente ganha uma continuação, é opção do leitor saber ou não o futuro dos personagens originais. Em uma obra como Harry Potter, em que viagens no tempo são plausíveis, a continuação pode não apenas alterar a história futura, como também a pregressa, desconstruindo tudo o que nós conhecíamos – e nós sabemos que titia Rowling é bastante apreciadora da ideia de trazer fatos novos à saga (nada contra, claro, ela faz o que quiser). O receio, realmente, é que, no roteiro de uma peça – que também é, digamos, canônica –, ela acabasse alterando os acontecimentos já mais que consolidados na cabeça de milhões de fãs até que os livros e os filmes já "não fizessem sentido", pois tudo teria mudado e aquelas histórias nunca teriam acontecido. Isso para alguém que acredita na teoria do caos**, como eu, é um risco gigantesco e seria bastante controverso. Não que teríamos um problema de fato, mas seria um pouco estranho, não é mesmo?

A  L  V  O  Verde é uma cor relaxante, não é? Quero dizer, as salas da Grifinória são ótimas e tudo, mas o problema com o vermelho é que, dizem, te deixam um pouco perturbado... não que eu esteja insinuando alguma coisa.
[tradução livre]


Como eu não quero dar nenhum tipo de spoiler, vou parar as especulações por aqui. Há muito sobre os acontecimentos a ser discutido, mas qualquer coisa que eu escrevesse a mais iria revelar um pouco do enredo e eu acho interessante que todos possam passar por cada reviravolta sem saber o que esperar. (Caso terminem de ler e queiram conversar e debater, estou disponível em várias redes sociais por aí!) Todavia, ainda sem entrar no mérito da história, é possível destacar outra questão. Acontece que, em muitas cenas, os diálogos dos adultos – ou seja, Harry, Rony, Hermione, Draco e outros – não me soou crível; na verdade, parece que eu estava vendo eles novamente com seus dezessete anos, fazendo piadas e brigando entre si como se já não fossem pais e alguns não ocupassem cargos altíssimos no Ministério da Magia. Sendo justo, em alguns poucos momentos eles de fato têm discussões maduras, mas vez ou outra só (será esse mais um recurso nostálgico?). É claro que a razão disso pode ser porque, pela primeira vez***, estou lendo uma obra de Harry Potter toda em inglês, então talvez esse tipo de diálogo sempre foi natural aos adultos da série e eu somente estranhei por não estar acostumado. Outro motivo pode ser por se tratar de uma peça, em que o ritmo é bem diferente e o espaço das falas é limitado. Lembrando que o roteiro foi escrito em conjunto pela J. K., o diretor John Tiffany e Jack Thorne, o responsável por transformá-lo em um espetáculo.

“RONY: Eu não tenho medo de nada. Exceto da minha mãe”
[tradução livre]


Falando sobre a peça, para mim foi quase impossível imaginar algumas cenas que estavam descritas no livro. A começar pelo básico: como eles simulam feitiços sendo disparados?! E uma pessoa que se transforma na outra? E sombras que se revelam dementadores? Sem falar de cenários absolutamente inusitados como a parte de cima de um trem e o interior de um lago! Sinceramente, espero poder assistir ao show algum dia para poder sanar essa curiosidade. Entretanto, posso afirmar que ler o roteiro já foi o suficiente para me deixar satisfeito e para sossegar a ansiedade de mergulhar mais uma vez nesse universo único.



Meu veredito final é que acho perfeitamente compreensível Cursed Child ser o livro mais vendido do ano no Reino Unido. Querendo ou não, o nome dO Menino-Que-Sobreviveu basta para empolgar fãs do mundo todo e, felizmente, dá para dizer que as expectativas foram cumpridas e, mais uma vez, Joanne não nos decepcionou. O roteiro é divertido, coeso – apesar de causar um estranhamento em alguns momentos – e é indubitavelmente prazeroso poder revisitar Hogwarts, o Expresso, a Floresta Proibida e rever muitos dos personagens que acompanhamos durante mais de uma década. Assim, continuo confiando na escritora mais aclamada de nossa época e que ela saiba a hora certa de agitar a varinha e enfim dizer finite incantatem.



Como bom aficionado por HP, já escrevi outros dois posts relacionados: um comparando as capas dos sete livros ao redor do mundo (o que aparentemente não vai dar para fazer com Cursed Child) e outro sobre minha paixão pela saga, na ocasião do lançamento do último filme.



NOTA: Não coloquei mais citações por questões, de novo, de spoiler. Os trechos mais interessantes, infelizmente, revelariam um pedaço do enredo. #KeepTheSecrets (não obstante, devo colocar algumas citações no AMN)

OUTRA NOTA: Gerou bastante polêmica o anúncio dos atores que fariam o trio adultos, mas de tudo que faltou comentar, isso me parece o mais desnecessário.


*Traduzi os nomes tal qual a Lia Wyler fez no epílogo de HP7 e como provavelmente farão novamente.

**Complexo demais para ser explicado em uma nota de rodapé, a teoria do caos, bem resumidamente, apregoa que qualquer evento, por mais insignificante que pareça, pode afetar bruscamente o curso das coisas em qualquer lugar do universo -- aquela história de o farfalhar da borboleta causar um furacão no outro lado do mundo. Assim, se eu volto para o passado e piso em uma folha que originalmente permanecia intacta, quando eu retornar para o presente a humanidade pode ter sido extinta pelo vírus H1N1. Complexo assim.

***Da JKR, eu também li “The Casual Vacancy” e “The Cuckoo's Calling” no original, mas como não é literatura juvenil, acho que não tem como comparar.

domingo, 9 de setembro de 2012

As Capas de Harry Potter pelo Mundo

         Setembro já começou e promete carregar para longe as tão mencionadas agruras do mês anterior. Isso porque, além dos melhores seriados americanos estarem de volta com novos episódios, a verdadeira fundadora de Hogwarts, J. K. (Juscelino Kubitschek) Rowling, vai se arriscar novamente no universo literário e lançar The Casual Vacancy - que, não tenha dúvidas, trata de "trouxas" e nada mais. Mesmo sabendo que não encontrarei nele referências da saga de Hermione Granger e seus dois amigos, confesso estar bastante empolgado para ver como Joanne vai lidar com motes adultos. Obviamente, fiquei ainda mais curioso depois de Michael Pietsch, editor do livro, ter se referido à autora como gênia e ter dito que a história o lembrou de Dickens "por causa da humanidade, do humor, das preocupações sociais, dos personagens fortemente reais". Tendo em vista que seu lançamento se aproxima, nenhum momento seria oportuno para relembrarmos de Harry Potter, a "septologia" que, como a série Friends e o filme De Volta para o Futuro, virou uma verdadeira referência e, como tal, nunca é realmente esquecida (talvez com um obliviate coletivo?).
       Motivado por uma curiosidade repentina, dia desses quis saber como eram as capas de Harry Potter em outros países e, apesar de ter encontrado vários sites a respeito, eu (e minha inseparável meticulosidade) senti falta de um post bem organizado e completo que pudesse indicar aqui; assim, resolvi fazer um eu mesmo. Para isso, percorri a internet coletando várias e várias imagens e, embora não possa dizer que meu post sim está completo, compilei a grande maioria do que encontrei - deixando algumas poucas de fora.
       Vou guardar meus comentários para o final, mas, antes, acho necessário observar que a famosa capa ilustrada pela americana Mary GrandPé para a editora Scholastic é utilizada não só nos Estados Unidos e no Brasil, como na Noruega, Rússia, Israel, Polônia, Croácia, Coréia, Indonésia, Romênia, África do Sul, Turquia, Bulgária, China, Estônia, Lituânia etc. Para evitar repetições, coloquei apenas a versão original, amerciana, uma vez que a única diferença entre ela e as outras são o título e o subtítulo (como você pode ver nessa capa taiwanesa, nessa turca e nessa israelita; já os gregos têm versões da capa inglesa). Vocês vão notar ainda que, por alguma razão, é muito mais fácil encontrar imagens do primeiro volume, «Pedra Filosofal», do que dos demais.
     Eu também peço desculpas por não ter colocado figuras maiores, ainda que valha a pena observar mais detalhadamente algumas. O problema é que são 118 imagens e, se eu as ampliasse, o post ia ficar maior e mais pesado do que já está.


Harry Potter e a Pedra Filosofal





Harry Potter e a Câmara Secreta





Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban





Harry Potter e o Cálice de Fogo





Harry Potter e a Ordem da Fênix





Harry Potter e o Enigma do Príncipe





Harry Potter e as Relíquias da Morte


          Agora, algumas considerações:

- Antes de mais nada: o que são essas capas da Finlândia??? Absolutamente medonhas!
- E as japonesas? Tenho minhas dúvidas se eles conseguiram captar a essência da história (apesar de terem ficado bem originais). A versão alemã é um tanto caricatural, mas me agradou... A francesa também não é nada mal (em particular a do 7), mas prefiro a espanhola à ela;
- Sobre «Pedra Filosofal» (Philosopher's Stone para os britânicos e Sorcerer's Stone para os americanos): tenho vontade de gritar com tanta bizarrice. Os islandeses, os iranianos e os armênios que me desculpem, mas só posso imaginar que havia algum complô nesses países para boicotar as vendas dos livros! E essa boca no Chapéu Seletor tcheco? Os portugueses, coitados, ganharam essa capa completamente infantil, como se a faixa etária dos leitores de Harry Potter não pudesse ultrapassar os 10 anos (imagine que os ingleses exigiram as capas adultas porque ficavam constrangidos de ler os livros com a capa original em público); felizmente, a partir de «Prisioneiro de Azkaban», a editora portuguesa adotou as ilustrações americanas, da GrandPré. Quanto à holandesa de bolso, eu só fiquei em dúvida se aquelas nuvens estão lá por acaso ou se representam, não sei, o quadribol;
- Em «Câmara Secreta», chama-me atenção a dinamarquesa com uma naja na capa ao invés do basilisco, o qual - até onde se sabe - não possui essa habilidade de dilatar o pescoço;
- Bicuço em 12 das 16 capas de «Prisioneiro de Azkaban»!
- Acho que «Cálice de Fogo» é o único caso em que não tenho muita afeição pela capa da GrandPré, acho que eu prefiro a inglesa ou a francesa.
- Em «Ordem da Fênix», não há tanto consenso quanto ao que retratar: alguns desenharam até os Testrálios, outro a luta final no Ministério (destaque para Harry fazendo beatbox na capa dinamarquesa);
- Uma dica para a Ucrânia: não é uma boa opção misturar roxo com amarelo-marca-texto e verde-limão, como na capa de «Enigma do Príncipe»;
- E é notável que eles capricharam muito na capa de «Relíquias da Morte», a maioria está bem desenvolvida: a francesa, a espanhola, a holandesa, a sueca, a dinamarquesa... Ironicamente, não gosto da capa infantil da Bloomsbury para o livro 7... acho que ela transmite uma ideia muito colorida para uma história tão "sombria" e lúgubre. Sem falar na italiana, a mais estranha de todas;
- Por fim, não sei vocês, mas eu adorei todas as capas da versão adulta da Bloomsbury. Tão lindas quanto são as da Signature Version, ilustradas pela Clare Melinsky, e que estão sendo lançadas agora (R$169,90 na Submarino)... Eu só não compro a coleção toda com essa capa porque, por razões sentimentais, não conseguiria me desfazer da que eu já tenho, com os desenhos imortalizados da Mary GrandPré e as folhas sutilmente machucadas por meus dedos ansiosos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Do porquê Joanne é bilionária

ou "O primeiro e, provavelmente, último post sobre o menino que sobreviveu" (SEM SPOILERS)

Trilha sonora para acompanhar a leitura do post:




Na verdade, eu não pretendia escrever um post sobre o assunto. Eu deixaria passar em branco, sem mencionar nada a respeito, como se não fosse importante. Mas é. E muito.

 "O Sr. e a Sra. Dusley, da rua dos Alfeneiros, nº 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem." (Primeiro parágrafo de "Harry Potter e a Pedra Filosofal")

A imagem dispensa descrições, certo? Para os menos familiarizados, esse é o primeiro livro da série. Em um dia qualquer de um ano que - infelizmente - não me lembro (2000, acho), essa capa começou a se infiltrar nas (poucas) livrarias da minha cidade e vários exemplares eram exibidos na vitrine. Até aí, não havia me atraído muito. Mesmo porque, vamos combinar, essa capa é muito mais sugestiva e instigante depois que você lê o livro (em especial o detalhe do Fofo ao fundo). Então, por mim, mesmo já gostando muito de ler na época (então, não, eu não aprendi a gostar de ler com Harry Potter), não faria tanta questão de tê-lo... até que eu o ganhei: era exatamente igual esse da imagem, o título ainda sem a estilização dos exemplares pós-adaptação-para-o-cinema. O curioso é que os primeiros capítulos do livro são longos e com referências que você só vai entender muitas páginas (ou livros!) pra frente! Muita gente deve ter desistido logo no começo, mas tanta gente persistiu - graças à habilidade de escrita da autora - que Harry Potter se tornou um marco literário. Não é a toa que, ao fim do primeiro livro, fiquei ansiosíssimo pelo segundo, e qual não foi a minha supresa ao ver, algum tempo depois, que ele seria adaptado para o cinema! Vejam, o primeiro livro custou uns R$20, mas os outros, como o 5º e o 7º, custaram, cada um, em torno de R$65 (mais os três livros extras); isso sem contar os ingressos para os filmes. Contudo, mesmo isso posto, afirmo com segurança: valeu cada centavo.

Por quê? Bom, um dia eu li que a razão de tamanho sucesso era pela história abordar vários temas comuns, como conflitos familiares, sexo, drogas, romance, vida escolar, esportes, lutas etc etc. Acho que eu concordo em parte, porém não pode ser apenas esse o motivo. Acho que a magnificência da saga está menos em tratar de temas recorrentes e mais na fantasia, no fantástico: ou, o que é mais provável, na junção dos dois aspectos. Decerto fazem séculos que livros sobre magia e bruxaria são escritos, mas acabou que Harry Potter vingou como nenhum outro. Arrisco supor que se fosse apenas um livro, não faria tanto rebuliço; contudo, a série dos sete foi marcada por uma genial gradação do tom adulto da obra, incluindo a linguagem, acompanhando também o crescimento dos leitores. Confesso que eu reclamei bastante sobre o hiato entre um livro e outro (como o 5º, que levou anos para ser publicado), mas, agora, olhando pra trás, acho que eles todos saíram no tempo certo... ao menos para os que conviveram com Hogwarts durante a adolescência.

Eis que dia 21/07/2007, a história chegou, em definitivo, ao fim. Os que tinham condições, adquiriram sua versão em inglês mesmo; os mais saudosistas, aguardaram até novembro pela versão oficial em português; e eu... bem, eu li, poucos dias depois do lançamento em inglês, uma versão traduzida às pressas por fãs (tradução muito bem feita, diga-se de passagem) e disponibilizada na internet (para quem não se lembra, na época, houve uma verdadeira agitação, pois alguém pegou o livro de uma livraria e o scanneou antes do dia 21). Ali se encerrou toda a trama, com todos os maiores mistérios suficientemente bem esclarecidos (ao contrário, digamos, de Lost hehe); aqui cabe um adendo curioso: ainda que a história se passe em um mundo mágico, onde tudo é possível de acontecer, J. K. Rowling não se utiliza disso para justificar tudo com "magia" - não, ela cria um mundo bastante verossímil, em que também há limites (não se pode, por exemplo, consertar varinhas quebradas, ressucitar os mortos ou se tornar imortal facilmente). O que me impressionou muito também são os pequenos detalhes que foram criados em vários livros anteriores e serviram para desvendar mistérios no último. Essa é uma dificuldade comum em coletâneas que vão sendo escritas uma a uma e vão sendo publicadas: se, no terceiro livro, você percebe que deveria ter deixado uma pista no primeiro, não há mais volta. E, olha, sinceramente, se faltou algo para a autora acrescentar em algum dos livros necessário para o desfecho final, ela não deixou transparecer em nenhum momento. O sentimento é que toda a história já estava estruturada na cabeça dela, nos mínimos detalhes (quando, ao que tudo indica, apenas o epílogo já estava escrito desde o começo), porque, no fim, tudo se encaixou.

Agora, 4 anos depois do lançamento do último livro, o último filme é exibido para o mundo. Muitos não entendem a declaração de que "agora sim, acabou", mas, de fato, agora sim, não há mais continuação (sim, eu estou ignorando o PotterMore). É verdade, todos os fãs já sabiam o final do filme (bem como praticamente todo o roteiro), porém, entendam, é diferente quando você vê a cena perante seus olhos e não apenas na imaginação; ou não é diferente ler o romance do Mario Puzo e assistir o filme do Francis Ford Coppola? Pela última vez, tivemos a chance de vislumbrar aquele castelo quase irreal e um espetáculo de feitiços e magias que a maioria de nós não tem a esperança de ver fora da tela. Ainda mais com efeitos especiais quase impecáveis!

Enfim, só nos resta mesmo agradecer à Joanne, pois, afinal, nós lhe demos fortuna, mas o que ela nos deu foi todo um mundo extaordinário; um mundo sem restrição de idade e que estará lá para quando quisermos revisitá-lo.


"A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão - as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas. Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: 'Brasil, aqui vou eu... Obrigada, amigo.'"
- trecho de "Harry Potter e a Pedra Filosofal"


"Words are, in my not so humble opinion, our most inexhaustible source of magic, capable of both inflicting injury and remedying it"
- Alvo Dumbledore (filme "Harry Potter e as Relíquias da Morte")




Créditos da imagem: Google Images.